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CONTRAOFACILITISMO

Blog para debater ideias que recusem o facilitismo em educação.

CONTRAOFACILITISMO

Blog para debater ideias que recusem o facilitismo em educação.

Carta à comunidade educativa

vai-teaosprofessores, 21.02.13

A reflexão que urge encetar para acabar com a «paz podre e a discricionariedade»!

 

 “ Não há machado que corte a raiz ao pensamento.”

                                           António Gedeão, poeta e professor

 

 Caros colegas,

 

O momento singular que a Escola Secundária de Felgueiras vive merece uma reflexão estruturada e honesta a nível intelectual e ético-moral que, se centra em três pontos, a saber:

-------- A não melhoria dos resultados de aprendizagem dos alunos (exames nacionais); a degradação da autoridade do professor e consequente aumento da indisciplina e, em terceiro, a cultura (clientelar?) vivida na escola, traduzida na feitura de horários, na atribuição de turmas e níveis de escolaridade aos docentes e ainda a constituição de turmas-gueto e escolha de professores para as turmas onde estão inseridos os filhos de determinados docentes ligados à direção. Em suma, estamos perante o desvirtuar da praxis educativa naquilo que ela tem de mais nobre e que vai de encontro a uma Escola inclusiva, democrática e pública!

-------- No que concerne, à não melhoria dos resultados de aprendizagem é patente que as famílias com capital cultural preferem a Escola Secundária da Lixa! Porque será?! A resposta está nos rankings dos alunos sujeitos a exame nacional, pois os pais, inteligentemente, escolhem (os que podem escolher!) a melhor escola para os seus filhos. De fato, esta escola na última década não melhorou a sua posição nos rankings, o que leva os pais a optarem por outros estabelecimentos de ensino, quer no ensino público, quer no privado, quer no ensino profissional. Esta escola, tem ao longo do tempo vindo a sofrer uma degradação notória a vários níveis, e questionamo-nos porquê?! O peso excessivo dos «outros critérios» (chega a ter um peso de 40%) e o facilitismo reinante fazem com que o aluno não sinta necessidade de se esforçar, entregando-se ao laxismo …, o que leva aos resultados conhecidos. Esta situação é uma variável interna, a juntar às influências externas - políticas educativas do governo -, que afasta os alunos da nossa escola e consequentemente aumenta o desemprego docente! Esta variável é da responsabilidade dos (todos) órgãos de gestão da escola.

-------- O que está mais por detrás deste diagnóstico?! Em primeiro lugar a degradação da autoridade na Escola, traduzida por vários fatos, a saber:

  • Há um desrespeito notório perante a classe docente quando confrontada com insultos ignóbeis da parte dos discentes e a benevolência primária e passiva desta direção. Os fatos que justificam e sustentam esta afirmação, vão desde chamar impropérios aviltantes para com a natureza humana, desrespeitos ameaçadores à propriedade e à própria pessoa, leia-se docentes, e isto tudo, perante a passividade, a ocultação, e o paternalismo despótico da direção.
  • Os alunos prevaricadores dos mais elementares critérios de civilidade foram premiados com idas à Noruega, à neve, em suma, não se condena os infractores e premeia-se o facilitismo e a ignomínia, ao mesmo tempo que a autoridade do docente fica deveras fragilizada e humilha-se a classe docente!

Sem autoridade, e perante a passividade desta direcção desacreditada (a disciplina é atribuição do director), não há clima de trabalho profícuo, estruturante e sistémico. 

-------- Em segundo lugar, falemos das arbitrariedades mais primárias na feitura de horários: quem não conhece o caso de Filosofia, em que, havia um horário para uma docente, mas que foi escolhido por um professor mais graduado, provocando a ira de um elemento da direção?!

Quem não tem conhecimento que há docentes que se dão «ao luxo» de nem pôr as suas preferências, porque basta-lhes o nome para o seu horário ser em consonância com a sua vontade?! Como se explica que, um professor com um dos melhores resultados nos exames a nível nacional na escola, seja impedido, por imposição da direcção, para dar a disciplina onde obteve esses resultados  – torpedeando-se o princípio do professor natural por analogia com o de juiz natural e promovendo a lógica da escolha discricionária?! Será que estavam interesses ocultos da parte de familiares de um elemento da direção?! Estamos perante um despotismo não esclarecido, a recusa da meritocracia em favor do clientelismo?! O dirigente que promove a discricionariedade ganha poder, mas a instituição, ao não se reger por normas que traduzam princípios, perde prestígio.

-------- Não se pense que estas práticas lesivas da praxis educativa da classe docente que a todos nos deve fazer refletir e envergonhar só atingem os professores, infelizmente, também atingem os alunos quando se cria uma turma de repetentes, a chamada turma-gueto, ao lado da turma de elite, também com filhos de professores! Será mera coincidência ou o violar dos princípios doutrinários de uma escola democrática está aqui bem patente?! Que cinismo hipócrita e farisaico é este, colegas?! Não será isto o reconhecimento pela direcção de que a sua norma falhou, tentando a exceção para os amigos?!

-------- Reiterando o ponto da autoridade – pedra basilar de qualquer sociedade civilizada e democrática -, esta é deveras beliscada, marginalizada, delapidada pelo órgão de direção quando se vê confrontado perante casos conflituais, tratando-os, de uma forma diferenciada consoante os seus oponentes! Quem não conhece o caso que envergonhou o bom nome da Escola e de todos os docentes respeitáveis, relacionado com uma visita de estudo a Espanha interrompida por falta de pagamento e a pessoa em causa premiada com a indigitação para coordenador de departamento? Quem não conhece o caso do professor que não atribuía classificação explícita nos testes, que foi alvo de recurso e nada lhe aconteceu?! Mas caríssimos colegas, quando não se gosta da «cor dos olhos» de outro docente, todos os pretextos servem para o pressionar e desacreditar.

-------- Não há dúvidas que a Escola Secundária de Felgueiras vive uma cultura (clientelar?), que degrada as relações pessoais quando a direção e os seus amigos almoçam no balcão da cantina, contíguo à sala de professores, tendo esta prática começado no início do ano de forma correta comendo-se na cantina, a comida servida nesta e completando-a com sobremesas trazidas para o efeito. O que começou bem e era um exemplo aos discentes, degradou-se - o que levou a esta alteração? Sabemos que o poder e o seu círculo têm necessidade de manifestações públicas desse mesmo poder nas suas práxis culturais, mas não tinha conhecimento de nenhuma manifestação de «status» equiparável, que ultrapassasse o decoro institucional usual em relação aos discentes e aos outros docentes, pois não existe, como nos jantares de professores de final de período, convite público a todos os docentes. Fora da escola cada um é livre de escolher com quem almoçar, mas na escola deve haver regras.

-------- Discutir estes assuntos é essencial e central no atual momento da vida da nossa Escola, já que os órgãos competentes não o fazem, à exceção do Conselho Pedagógico, onde de tempos a tempos lá aparece uma reflexão pertinente! Já o Conselho Geral, avaliando os seus comunicados, não teve até agora a coragem de trazer estes assuntos à baila e ao debate esclarecido. Assim, não fugindo ao debate democrático, entendemos ser pertinente trazer estes assuntos à reflexão da comunidade educativa da Escola Secundária de Felgueiras. Outras matérias haverá para serem alvo da nossa reflexão mas, neste Intróito, temos matéria suficiente para debater com a serenidade e inteligibilidade exigíveis.

Colegas, chegou a hora, imbuídos de um espírito sereno, de dizer “um basta” à degradação da nossa já humilhada classe docente e escola pública, naquilo em que podemos intervir.

Rui Viseu Ferreira e Jorge Nelson Costa