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CONTRAOFACILITISMO

Blog para debater ideias que recusem o facilitismo em educação.

CONTRAOFACILITISMO

Blog para debater ideias que recusem o facilitismo em educação.

A disciplina na sala de aula é essencial no processo ensino-aprendizagem

vai-teaosprofessores, 30.04.15

Numa turma disciplinada o professor tem oportunidade de aplicar o que planeou para uma certa e determinada aula e o tempo todo de aula é aproveitado, mesmo que se façam pequenos parênteses para desanuviar.

Numa turma indisciplinada o professor não pode cumprir o que planeou, porque perde tempo a tratar da indisciplina. O tempo dedicado ao ensino de matéria é menor do que o tempo do horário. Desde logo há menos tempo para o essencial. Depois, o pouco que se consegue explicar é interrompido pela indisciplina, dificultando a aprendizagem de quem quer aprender e cansando o professor, o que pode diminuir a sua disponibilidade para explicar bem. 

Quem perde são todos os alunos, mas principalmente os que querem aprender. O professor cansa-se mais.

O problema é que os alunos esforçados da turma não se viram contra os colegas indisciplinados, muitas vezes até se viram contra o professor disciplinador, em nome de uma solidariedade de grupo, mesmo informal, que pesa bastante na adolescência.

Os outros critérios na atribuição de notas

vai-teaosprofessores, 21.04.15

 

 

Numa escola além dos testes, que valem entre 80 a 70% da nota final existem outros critérios que têm a ver com o empenho e com o civismo.

Na turma dos «bons malandros», estes gostam de perturbar as aulas com diversas brincadeiras, havendo destes ainda uns poucos que sem trabalharem chegam a uma nota interessante, acima do suficiente.

Acontece que em face do seu (falta dele) empenho na sala de aula e comportamentos de pouco civismo, como falarem muito, não respeitarem as regras de participação, estes alunos baixam a nota do teste, ficando com uma nota final inferior ao da nota do teste.

Estes alunos não gostam desta situação, mas estes critérios são anunciados no início do ano, servindo para subir notas, por exemplo, um aluno com 9 pode ficar com positiva se tiver trabalhado na sala de aula (empenho) e um comportamento adequado (civismo), mas também para as descer como o caso que aqui vos trago. Serve esta situação para sinalizar a estes alunos que podem fazer mais, além de que por vezes perturbam o funcionamento da turma. A nossa liberdade acaba quando começa a dos outros.

Normalmente os alunos só veêm os aspetos positivos das regras e ignoram os aspetos negativos, mas, evidentemente, estas cobrem todas as situações, as negativas e as positivas.

Texto sobre relação escola-família

vai-teaosprofessores, 15.04.15

A relação entre a escola e o meio envolvente.

Introdução

A escola não é uma ilha isolada da sociedade, pois apesar de ter gradeamento e muros a separá-la da sociedade e porteiros a controlar o acesso, o que se passa na sociedade transborda para dentro da escola. O contrário também acontece a escola pode influenciar a sociedade.

Quando a sociedade vive uma crise os alunos reflectiram de alguma maneira essa crise. Já tenho vindo a sentir, mas acho que este ano agravou-se, que os alunos estão cada vez mais desmotivados na escola.

De facto, nos profissionais, tenho cada vez mais alunos que não estudam, estão na escola à espera de completarem 18 anos para as famílias não serem incomodadas se abandonarem a escola - até esta idade o abandono escolar dá origem a um processo de averiguações na CPCJ.

Nos alunos nos cursos de prosseguimento de estudos há cada vez mais desencanto com a ida para a universidade, devido ao elevado desemprego nas camadas mais jovens da população ativa, mesmo para os licenciados. Neste contexto, há cada vez mais alunos que se batem por somente completar o 12º ano. Há alguns anos atrás havia 2/3 das turmas de alunos a lutar por uma nota de acesso ao curso universitário de eleição ou o possível face ao desempenho, presentemente essa percentagem é de um terço, o que cria um ambiente escolar de maior indisciplina.

Por outro lado, a escola pode dar à sociedade a possibilidade de ascensão social, a socialização dos alunos e exemplos de funcionamento em democracia, para só abordar o essencial. No acessório podemos ter formação não curricular em diversas áreas.

A família e a escola.

Mesmo sem ser em épocas de crise, mas reforça-se com a crise, o que se passa na família reflete-se na escola. Se o estudante vem de famílias desestruturadas há mais possibilidade de ser rendimento académico a refletir essa situação. É assim que nas reuniões iniciais e após inquérito aos alunos se faz uma caracterização socioeconómica da família do aluno, assinalando-se os casos disfuncionais.

Com a crise as famílias vivem problemas económicos, as ruturas familiares aumentam, refletindo-se nos problemas que os alunos trazem para dentro das escolas. Em geral associa-se a estes casos os casos mais graves de indisciplina.

Outro aspeto que se leva em conta é o capital cultural da família, que desde Bordieu é reconhecido como um fator de sucesso escolar. Este capital cultural aparece também nas sínteses socioeconómicas feitas nos inícios de ano e procuram dar aos professores uma sinalização da importância da família no apoio ao estudante, facilitando a aprendizagem.

Se este elemento se mantem acho que surgiu um novo fator, derivado do debate que se trava na sociedade, mas também na família, sobre a importância da escola na obtenção de emprego, quando antes se discutia o papel da escola na ascensão social, isto é a segunda geração, por via da escola, ganhar estatuto social em relação aos pais.

Hoje em dia discute-se se vale a pena investir na educação escolar dos filhos no ensino superior, quando a licenciatura já não é sinónimo de acesso ao mercado do trabalho e quando se arranja emprego, este é cada vez mais mal pago, porque a par de uma geração anterior que tem rendimentos elevados, a geração atual só parece ter acesso a empregos mais mal pagos e com precariedade de emprego, para não referir o desfasamento entre cursos ministrados e as necessidades do trabalho.

Mesmo havendo estudos que contrapõem a este cenário, o fato de os licenciados ganharem mais do que quem só obteve o secundário, a verdade é que as famílias desvalorizam cada vez mais o prosseguimento de estudos, quer pelas dificuldades sentidas pelas famílias, quer por este investimento aparentemente não ter retorno, na perceção das famílias, pelo que os estudantes vão ficando cada vez mais desmotivados em relação a uma escola que impõe a escolaridade obrigatória. Este paradoxo gera uma tensão entre a obrigatoriedade de se estar na escola e o aumento da desmotivação sentida por muitos alunos, que se traduz num aumento da indisciplina no meio escolar.

Por outro lado, se há cursos profissionais que dão efectivamente acesso ao mercado do trabalho, propondo uma alternativa válida para se estar na escola e ter acesso a carreiras interessantes do ponto de vista remuneratório, a maioria dos cursos profissionais não oferecem expectativas profissionais e remuneratórias que incentivem e motivem os alunos. Talvez fruto do interregno de décadas da oferta de cursos profissionais no sistema de ensino. Os novos cursos ainda têm um caminho a fazer para ganharem notoriedade e prestígio, salvo algumas honrosas exceções, uma delas pude constatar quando visitei a escola de hotelaria de Lamego.

Os alunos da via profissionalizante (profissionais e vocacionais) são cerca de 42% do total e foi reconhecido que há cursos com fraca empregabilidade, tal como acontece no superior. Esta situação de desfasamento entre a oferta académica e a empregabilidade tende a desmotivar o prosseguimento de estudos, no ensino superior, bem como, em menor escala no secundário, pois aqui o ensino é obrigatório.

Concluindo da sociedade, leia-se família reflectindo o estado da sociedade, vem para a escola cada vez mais factores desmotivadores para o empenho e participação do aluno na vida escolar.

 

A escola e a família.

Como já referimos na introdução, a escola pode dar à sociedade a possibilidade de ascensão social, a socialização dos alunos e exemplos de funcionamento em democracia, ou seja vivências democráticas.

Em relação à última, as vivências democráticas, com o novo sistema de gestão da escolas, em que se procura gerir as escolas como as empresas, este ensino com experiências democráticas viu-se bastante restringido, mesmo no caso da eleição para a associação de estudantes, esta foi esvaziada quanto à qualidade da sua participação na vida das escolas, aparentemente ficando restringida à organização da viagem de finalistas.

Um outro aspeto importante nas vivências democráticas é a participação dos encarregados de educação na vida da escola, aqui as experiências são variadas, mas em geral, salvo algumas exceções esta participação reduziu-se ao mínimo que é acompanhar a vida escolar dos filhos.

Sobre a escola servir de trampolim para a ascensão social dos alunos, a minha opinião é que este desiderato só é alcançado com rigor na avaliação, porque na falta desta, as famílias mais ricas ou recorrem ao ensino privado, ou completam a formação dada na escola com as famosas explicações. Quem não tem capital financeiro e cultural, só tendo a escola para se educar tem de ter uma formação assente no rigor e na exigência, para sair da escola e competir com o fator cunha.

Neste enquadramento, acho que todas as estratégias que desvalorizem a aprendizagem de conteúdos ou inflacionem notas, dando aos alunos feedbacks desfasados do real, só promovem um menor empenho do aluno e a ilusão de que está a atingir os objectivos. Uma destas estratégias é dar aos alunos notas que lhe permitam ter um buffer shock (amortecedor) face a um azar nos exames, praticada nos colégios privados principalmente, mas também em algumas escolas públicas.

Outro fator que a escola deve dar à sociedade é a socialização dos alunos, no sentido de estes aprenderem as regras de convivência em sociedade, que em linguagem simplificada, tem a ver com adquirirem disciplina. Aqui também não é líquido que que todas as escolas o façam, havendo relatos de situações em que não há uma ação eficaz contra a indisciplina, debilitando o prestígio e autoridade dos professores. Claro que também se deve discutir a pertinência da legislação em vigor.

Concluindo a escola pode dar bastante à família / sociedade como vivências democráticas e socialização, mas o essencial é permitir a ascensão social, o que passa por um ensino de qualidade e de rigor.

Rui Viseu Ferreira

Texto de participação na formação “motivação e disciplina na sala de aula”.

Felgueiras, 15 de abril de 2015

O procrastinar aumenta no 3º período

vai-teaosprofessores, 14.04.15

Neste terceiro período, começado há duas semanas, nota-se uma maior desmotivação dos alunos com o aumento dos que nada fazem nas aulas à espera que o tempo passe. Esta atitude também se reflete nas notas, onde tinha 3/4 negativas passaram para o dobro.

As causas deste fenómeno estão no tempo, o tempo quente e a primavera produzem um efeito de os adolescentes se virarem mais para a parte afetiva; na adaptação à escola, nos anos de início de ciclo, o 1º período é melhor em termos de atitude do que os 2º e 3º períodos; numa certa impunidade destas atitudes.

Este último fenómeno é da responsabilidade dos professores e da organização escolar que faz uma pressão a favor do sucesso, pedindo justificações para isto e aquilo, a que os professores respondem facilitando e recompensando os que pouco trabalham.

A nova reforma da Filândia

vai-teaosprofessores, 07.04.15

Está em curso uma reforma educativa na Filândia, de sinal contrário ao da reforma portuguesa. A reforma portuguesa continua a padecer de centralismo, ao impôr aos professores uma série de metas a atingir, várias centenas, ao contrário da Filândia, que dá mais autonomia às escolas ao dar metas menos promenorizadas, permitindo mais opções de escolha das escolas.

Outra diferença é a reforma portuguesa aponta para um ensino compartimentado, enquanto os filandeses apontam para uma maior interdisciplinaridade, onde um tema deve ser abordado de forma complementar entre várias disciplinas. Esta situação implica que os horários não são anuais, como os portugueses, mas variáveis em função do planeamento das matérias a serem lecionados.

De momento limito-me a transmitir a informação, ficando uma avaliação, para mais tarde. Mas desde já se percebe que na Filândia estamos perante uma verdadeira autonomia limitada por um envelope genérico de objetivos comuns, enquanto em Portugal se aposta na descentralização para os municípios, que passam a ser uma outra centralidade para as escolas, que continuaram sem autonomia. Na Filândia confia-se no corpo docente, em Portugal desconfia-se do docente, regulamentando o que ensinar ao pormenor.