Os centros de estudo: o caso da minha filha.
Nos últimos anos têm proliferado os centros de estudos. As famílias tiveram de recorrer aos centros de estudos para preparar os exames e porque com o aumento do horário de trabalho para as quarenta horas, muitas famílias tiveram de os deixar em centros de estudos, que os leva e trás das escolas, até os pais estarem disponíveis. No meu caso fui mais esta última hipótese que me fez colocar a petiza um ano num centro de estudos, porque o meu horário deixou de ser compatível e a mãe, que trabalhava ao pé de casa passou a trabalhar a 18Km e com mais uma hora de trabalho por dia.
Este ano que esteve no centro de estudos não foi brilhante, porque em vez de ir ganhando autonomia passou a estar dependente de um apoio para fazer os trabalhos. Tendo diagnosticado este retrocesso, em termos de autonomia e constaatando que estudar era resolver fichas, um modo de estudo virado para a preparação de exames, resolvi este ano trabalhar com a minha filha numa manhã que ambos temos livre e ao sábado.
Acima de tudo estou preocupado em que a matéria dada na semana seja estudada/revista em casa, não deixando acumular matéria. As fichas não foram banidas, mas tornaram-se um auxiliar de estudo e não a única forma de estudo. Hoje a minha filha tem mais autonomia, por exemplo na matemática resolve o exercício, depois compara com as soluções e só depois pede ajuda, se houver discrepância de resultados. A petiza já sabe estudar, ganhou confiança e até já não quer que esteja ao lado, quando antes era insegura e estava sempre a pedir ajuda.
Todo esta reflexão vem a propósito de uma notícia em que se referia uma diminuição da procura de centros de estudo. Esta notícia procurava explicar esta diminuição com o fim dos exames, o que levou os pais a confiar mais nas escolas e não sentirem necessidade de ajudarem os filhos na vida escolar. Claro que haverá sempre uma procura para os centros de estudo, tendo a ver com incompatibilidade de horários, apoios em certas disciplinas, mas os centros de estudos devem mudar o seu enfoque, nos alunos do básico, passando da resolução de fichas para os ensinar a fazer, a ter método, até porque com a diminuição da procura o auxílio poderá ser mais individualizado e cada vez menos resolução de fichas.
Este tema é também demonstrativo de uma mudança de paradigma em educação, com os exames havia desconfiança no trabalho das escolas, procurando as famílias com estas desconfianças complementar com um centro estudos. Está por trás desta atitude a ideia do que é público é menos bom e que precisa de ser complementado com o privado, os tais centros de estudo. A machada final nesta mentalidade é a escola pública ter sistemas de apoio aos alunos, criando a verdadeira igualdade de oportunidades, sem depender das posses económicas das famílias. Este passo ainda está para ser dado, esperemos que se concretize a breve prazo. Outra diferença é haver um ensino mecânico, o treino para os exames e um ensino mais personalizado, capaz de ultrapassar as diferenças culturais existentes no meio das famílias e tornando a escola um verdadeiro centro de de ascensão social e de igualdade de oportunidades. Este é o verdadeiro debate sobre os dois paradigmas educacionais, os defensores de exames e os defensores de uma escola pública de qualidade.