Outra vez a questão das reprovações.
Num estudo recente publicado nos jornais aparece de novo a tese de que as reprovações são contraproducentes porque esta situação custa ao Estado mais de 4000 € e porque o aluno nunca recupera os conhecimentos.
Quanto aos custos admito que haja custos, mas não o indicado, pois só haverá custos se os alunos repetentes obrigarem à criação de turmas adicionais, isto é, se o número de alunos reprovados não possam ser absorvidos pelas turmas existentes. Na minha vida como professor, poucas situações destas se passaram, pelo que este argumento, trazido numa época em que o economicismo predomina, parece-me um derradeiro esforço de convencimento, ao sabor da moda, mas sendo falacioso, no montante referido, é improcedente.
Sobre o segundo argumento é verdade que muitos alunos que reprovaram ficam desmotivados e no ano de repetição pouco mais fazem que no ano anterior. Também é verdade que esta repetição acaba nalguns outros casos por encaminhar o aluno reprovado no caminho do sucesso, aprendendo a lição e corrigindo comportamentos e atitudes, que o levaram à reprovação. Não tenho números sobre qual destas situações é a prevalecente, ainda que admita que seja a primeira como o estudo aponta. Pessoalmente olho para esta problemática na ótica daqueles que retiramos do caminho errado, isto é, basta que haja no mecanismo uma hipótese de sucesso para que devemos tentá-la. Acho preferível discutir o que podemos fazer para termos mais sucesso com os alunos reprovados, o que abordaremos mais à frente.
Agora a solução não é de maneira nenhuma o facilismo, isto é, a promoção do sucesso a 100%, quais eleições nas ditaduras, onde o concorrente único consegue sempre resultados eleitorais de 100% ou muito próximos. Não o é porque os alunos no final do ciclo de estudos concorrem ou para o acesso ao ensino superior ou no acesso ao mercado do trabalho e não me parece justo que quem cumpriu tenha de se opor a quem não cumpriu. Estaríamos a dar um sinal que não existe fora da sociedade escolar e a criar uma comunidade de exceção em relação ao geral, a comunidade educativa. Além disso não construímos um futuro melhor para o país com falta de rigor.
Por outro lado, a ascensão de classes que obriga a transpor mais obstáculos para quem é oriundo das classes baixas não pode deixar desvalorizar o seu percurso escolar se quiser aproveitar a oportunidade aberta pelo percurso escolar que deve ser tão rigoroso como para as das classes dominantes sob pena de desvirtuar a ascensão pretendida.
Sou adepto de os alunos que estão em vias de reprovar tenham mais uma oportunidade de recuperar, ao realizar por exemplo entre 15 de agosto e 15 de setembro, só para as disciplinas com fraco aproveitamento, uma instrução complementar, mas isto envolve mais dinheiro, o que de momento não existe. Outro fator que ajudaria à redução de reprovações é o acompanhamento psicológico, para quem tenha comportamentos desviantes, nomeadamente a desvalorização da escola, o que também requer recursos adicionais e atempados.
Concluindo contraponho elementos qualitativos à análise estatística do estudo referido, como o encarar o sistema educativo como uma preparação para a vida em sociedade, onde há rigor, como a indicação clara de que certos caminhos comportamentais e atitudes são penalizados pela sociedade e que para haver ascensão social a igualdade de oportunidades deve ser feita com base no mesmo nível de exigência sob pena de a coartarmos à partida, com os caminhos mais fáceis, que serão logo socialmente desvalorizados.