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CONTRAOFACILITISMO

Blog para debater ideias que recusem o facilitismo em educação.

CONTRAOFACILITISMO

Blog para debater ideias que recusem o facilitismo em educação.

Outra vez a questão das reprovações.

vai-teaosprofessores, 27.10.16

Num estudo recente publicado nos jornais aparece de novo a tese de que as reprovações são contraproducentes porque esta situação custa ao Estado mais de 4000 € e porque o aluno nunca recupera os conhecimentos

Quanto aos custos admito que haja custos, mas não o indicado, pois só haverá custos se os alunos repetentes obrigarem à criação de turmas adicionais, isto é, se o número de alunos reprovados não possam ser absorvidos pelas turmas existentes. Na minha vida como professor, poucas situações destas se passaram, pelo que este argumento, trazido numa época em que o economicismo predomina, parece-me um derradeiro esforço de convencimento, ao sabor da moda, mas sendo falacioso, no montante referido, é improcedente.

Sobre o segundo argumento é verdade que muitos alunos que reprovaram ficam desmotivados e no ano de repetição pouco mais fazem que no ano anterior. Também é verdade que esta repetição acaba nalguns outros casos por encaminhar o aluno reprovado no caminho do sucesso, aprendendo a lição e corrigindo comportamentos e atitudes, que o levaram à reprovação. Não tenho números sobre qual destas situações é a prevalecente, ainda que admita que seja a primeira como o estudo aponta. Pessoalmente olho para esta problemática na ótica daqueles que retiramos do caminho errado, isto é, basta que haja no mecanismo uma hipótese de sucesso para que devemos tentá-la. Acho preferível discutir o que podemos fazer para termos mais sucesso com os alunos reprovados, o que abordaremos mais à frente.

Agora a solução não é de maneira nenhuma o facilismo, isto é, a promoção do sucesso a 100%, quais eleições nas ditaduras, onde o concorrente único consegue sempre resultados eleitorais de 100% ou muito próximos. Não o é porque os alunos no final do ciclo de estudos concorrem ou para o acesso ao ensino superior ou no acesso ao mercado do trabalho e não me parece justo que quem cumpriu tenha de se opor a quem não cumpriu. Estaríamos a dar um sinal que não existe fora da sociedade escolar e a criar uma comunidade de exceção em relação ao geral, a comunidade educativa. Além disso não construímos um futuro melhor para o país com falta de rigor.

Por outro lado, a ascensão de classes que obriga a transpor mais obstáculos para quem é oriundo das classes baixas não pode deixar desvalorizar o seu percurso escolar se quiser aproveitar a oportunidade aberta pelo percurso escolar que deve ser tão rigoroso como para as das classes dominantes sob pena de desvirtuar a ascensão pretendida.

Sou adepto de os alunos que estão em vias de reprovar tenham mais uma oportunidade de recuperar, ao realizar por exemplo entre 15 de agosto e 15 de setembro, só para as disciplinas com fraco aproveitamento, uma instrução complementar, mas isto envolve mais dinheiro, o que de momento não existe. Outro fator que ajudaria à redução de reprovações é o acompanhamento psicológico, para quem tenha comportamentos desviantes, nomeadamente a desvalorização da escola, o que também requer recursos adicionais e atempados.

Concluindo contraponho elementos qualitativos à análise estatística do estudo referido, como o encarar o sistema educativo como uma preparação para a vida em sociedade, onde há rigor, como a indicação clara de que certos caminhos comportamentais e atitudes são penalizados pela sociedade e que para haver ascensão social a igualdade de oportunidades deve ser feita com base no mesmo nível de exigência sob pena de a coartarmos à partida, com os caminhos mais fáceis, que serão logo socialmente desvalorizados.

 

 

A questão das notas inflacionadas.

vai-teaosprofessores, 24.10.16

Tudo o que implique criação de injustiças deve ser corrigido, pelo que estou otimista que a inflação de notas deixe de ser um fator de injustiças no acesso ao ensino superior. As notícias que têm vindo a público apontam para a intenção do governo de intervir nesta situação criando um fator de correção das notas que leve em conta as estatísticas do desvio da nota interna em relação às notas obtidas no exame. Este fator de correção tanto pode ser positivo como negativo, isto é, tanto se pode beneficiar as notas das escolas sem inflação, como prejudicar as escolas inflacionárias (aposto que a primeira hipótese será a escolhida, por criar menos impacto social). 

Já escrevi neste blogue que já encontrei bastantes professores que têm um pensamento: deixem-me compensar os meninos da injustiça dos exames, aumentado-lhes as notas. O exame é injusto porque o aluno deve mostrar em 90 minutos o que aprendeu ao longo do ano e pode ter azares nestes minutos, como estar cansado, sair matéria mais difícil, etc! (Só que esta situação é igual para todos e os azares fazem parte da vida e alguns deles podem ser acautelados, sendo que a inflação de notas só benefia alguns, cerca de 24 escolas, sendo metade privadas).

Os professores que partilham este pensamento quando estão em maioria nos conselhos de turma e nas estruturas das escolas acabam por inflacionar as notas dos alunos. No setor privado teremos de equacionar a necessidade de apresentarem bons resultados como forma de atrair alunos para este ensino.

Não há a certeza que esta pretensão vá avante, mas considero positiva a sua discussão pública, mais uma vez, e espero que o governo tenha corragem de a implementar.

A problemática dos professores «idosos» e a indisciplina

vai-teaosprofessores, 17.10.16

Vem este post a propósito de um artigo do jornal público sobre a indisciplina dos alunos nas aulas dos professores mais velhos, onde a certa altura se acusa estes professores de darem aulas expositivas que conduzem à disciplina.

Sou um professor na casa dos 60, ainda com um horizonte de serviço ativo de mais 6 anos, não tenho tido problemas de indisciplina e dou aulas expositivas de cerca de meia hora. 

Depois desta declaração de interesse, quero dizer que ainda estou ao serviço porque as regras de acesso à reforma penalizariam-me em cerca de 40%. Portanto, se é preciso estar no ativo por causa da sustentabilidade da segurança social, não percebo as vozes contra os professores de idade. A necessidade de se trabalhar até mais tarde é uma imposição da sociedade e deriva da esperança média de vida estar a aumentar.

Mas o artigo parece ter um outro objetivo, que é atacar os professores mais velhos porque usam métodos de trabalho desadequados aos tempos modernos, particularmente as aulas expositivas, que julgo ser quando se expõe matéria nova aos alunos. Expôr matéria nova é uma necessidade, o problema não está em fazê-lo, tanto mais que ainda não conheço outra maneira de se introduzir novos temas, mas todos os professores sabem incluindo os mais idosos (particularmente estes) que esta exposição deve ser uma apresentação do tema e a definição de como o tema vai ser trabalhado a seguir, quer resolvendo exercícios, quer levando os alunos a pesquisar sobre o assunto, quer fazendo trabalhos. O essencial é adaptar-se a maneira de se introduzir uma matéria nova às caraterísticas dessa mesma matéria, assim como ao processo de avaliação a implementar. Resumindo há matérias que precisam de exercícios para as consolidar, outras adequam-se a trabalhos individuais, outras a pequenas pesquisas e apresentação das mesmas, etc. Assim, não faz sentido, parece-me mesmo um preconceito, a crítica às aulas expositivas, como aparece no artigo sem a contextualizarmos.

Concedo que a aula expositiva deve ter um tempo limitado, porque é um tipo de aula em que é difícil manter o aluno atento, mas meia hora todos os alunos conseguem estar atentos. Acho mesmo que este tipo de crítica é mais razoável para as aulas de hora e meia, onde se conhece da psicologia que a partir da hora a atenção pode começar a falhar, mesmo quando se trabalha em computadores ou se permite o uso de telemóveis.

Concluindo, o artigo parece ser mais um ataque aos professores, particularmente a quem pratica aulas expositivas, sem contextualizar e apresentado a pesquisa como alternativa ao método expositivo, quando a pesquisa pode e deve ser usada, mas quando a matéria a lecionar se adequa a isso. Por exemplo, promovo trabalhos sobre países quando falo do desenvolvimento, mas para tratar a inflação e como medi-la promovo exercícios práticos e não pesquisa.

A questão do encurtamento de programas

vai-teaosprofessores, 13.10.16

Este governo está a ouvir as associações de várias disciplinas para discutir os programas em vigor, não para os alterar, que teria custos para os utentes e ganhos para as editoras, mas para os flexibilizar.

Esta atitude parece-me positiva porque colca o professor e as turmas como elementos centrais do programa, ao permitir aos professores fazer escolhas sobre os conteúdos a lecionar, em função dos alunos que cada turma tem. Portanto, temos aqui alguma descentralização para as bases, para os zecos, e não uma nova centralidade local nos diretores, como tem sido habitual fazer-se nos últimos tempos. Vejo aqui a mudança de paradigma da desconfiança para com os professores, para os tornar elementos centrais do sistema, ao escolher os conteúdos a lecionar em função das turmas atribuídas. Esta nova atitude tem também a vantagem de permitir ao professor trabalhar mais os alunos com dificuldades e não se sujeitar ao estrito cumprimento do programa, sendo possível que daqui resulte uma melhoria de resultados dando ao professor poder para escolher repetir certos conteúdos e ajudar alguns alunos em vez de passar a outro tema.

O Guinote apresenta um aspeto negativo desta opção, a eleminação de certos conteúdos pode por em risco a capacidade crítica do estudante. Eu rebato este argumento com a capacidade crítica do professor de estar atento a essa possibilidade e também porque para a capacidade crítica do aluno é fundamental que aprenda o suficiente para saber ultrapassar as dificuldades da vida e isto pode não passar por programas mais extensos, mas por conteúdos fundamentais bem lecionados e melhor apropriados pelos estudantes.

O rigor compensa.

vai-teaosprofessores, 10.10.16

Eu tenho este ano uma turma de profissionais que já foram meus alunos no ano passado. Este ano tenho de lhes dar uma disciplina que exige trabalho, em que se falham as bases dificilmente os alunos recuperarão, havendo três módulos que se interligam no sentido de a matéria dada ser necessária para se perceber o módulo seguinte.

No ano anterior, com algumas recuperações, estes alunos perceberam que só passavam se estudassem, claro que levando em conta as notas dos testes, mas também o seu empenho e comportamento na sala de aula. Assim, aconteceu que alguns alunos com negativas altas passaram, porque eram alunos que trabalhavam bem nas aulas e tinham comportamentos adequados, enquanto outros não atingiram a nota positiva porque eram preguiçosos e com comportamentos perturbadores. No final do ano só dois alunos tiveram de fazer exame dos módulos, dos quais um passou.

A criação desta expetativa de que é preciso trabalhar, permitiu que neste segundo ano, as aulas tenham corrido muito bem e que os alunos esforçaram-se para entrar na matéria lecionada, tanto mais que foram avisados das caraterísticas da matéria. Claro que tenho sempre a preocupação de acompanhar os que têm mais dificuldades, mas os alunos mais problemáticos perceberam têm de esforçar-se e ultrapassaram os seus comportamentos habituais, por exemplo, os alunos que chegavam sempre atrasados e mesmo faltavam às aulas, este ano estão mais cumpridores, pelo que acho que terei bons resultados. No ano anterior, com uma turma diferente os resultados foram maus, sendo que era o primeiro ano que trabalhávamos em conjunto, tendo sido difícil ultrapassar os seus hábitos.

Concluindo, a criação de uma expetativa de rigor compensa, podendo dar mais trabalho no ano inicial de trabalho em conjunto, mas depois «o carreiro de cabras transforma-se numa via rápida», aumentando o empenho e mesmo alterando-se hábitos criados.

Um comentário sobre o investimento em escolas: da parque escolar aos dias de hoje

vai-teaosprofessores, 03.10.16

Já trabalhei numa escola da parque escolar e agora trabalho numa escola a precisar de obras. Na escola construída pela parque escolar, foram gastos 18 milhões de euros, enquanto na escola atual foi protocolada uma requalificação de 4 milhões de euros, cerca de 25 % do que foi gasto na obra da parque escolar. As necessidades atuais das escolas dizem respeito a haver salas específicas para certos cursos profissionais, como cozinha e mecânica e maior investimento em informática (incluindo sala para os professores trabalharem), para permitir nos profissionais, pelo menos nas disciplinas técnicas, que se lecionem aulas mais práticas. Pontualmente, algumas escolas precisam de mais laboratórios para os cursos de seguimento de estudos.

Vejamos na escola da parque escolar, para além de não se andar fora do edifício entre os blocos, foram construídas salas para mecânica e uma cozinha de apoio aos cursos de cozinha. Mas se o curso de cozinha continuou, o de mecânica deixou de ter alunos e lá temos nós uma sala com fossa, sem utilização. A programação dos cursos a abrir não está a levar em conta as infra estruturas criadas! Também nessa escola as salas informatizadas estão aquém das necessidades para se ministrar aulas nos profissionais mais práticas, além de que o curso de comércio continuou sem sala onde se pudesse simular o funcionamento de uma loja, onde os alunos pudessem praticar o atendimento.

Sobre a escola a requalificar as necessidades são programar salas que permitam abrir cursos profissionais de qualidade e com infra estruturas adequadas, o aumento da oferta de salas informatizadas, que permitam lecionar disciplinas técnicas dos cursos profissionais com um ensino mais prático, isto é, baseado no aprender fazendo em vez de um ensino mais teórico. Além do mais, se se exige no final do ano uma PAP aos alunos, estes devem poder praticar a feitura de trabalhos semelhantes aos exigidos na PAP ao longo do curso.

Sobre as condições de trabalho dos professores, a escola da parque escolar oferece condições muito boas enquanto na escola a requalificar temos uma sala de trabalho com 4 computadores e uma sala de diretores de turma com 2, claramente insuficientes para haver condições de trabalho adequadas.