Os professores e as greves
Estão no horizonte duas greves de professores, uma na sexta-feira e outra a partir de 6 de novembro para os tempos não letivos.
Antes de falar em cada uma delas façamos o enquadramento. Em época de recuperação de rendimentos e de restrições orçamentais, os setores mais reinvindicativos têm vindo a obter ganhos salariais, veja-se o caso dos enfermeiros, dos médicos e dos juízes. Para os funcionários públicos está em curso o fim da precariedade e o descongelamento das carreiras. Os professores não têm feito greves, nem softs nem duras, pelo que estão a ser prejudicados na resolução da precaridade e no descongelamento das carreiras, porque têm um sistema mais exigente que a função pública normal. Os anos de congelamento também se vai refletir nas reformas, com os 10 anos em que estiveram congelados a prejudicar a média com que se calcula a reforma.
Por tudo isto faz sentido a greve de sexta-feira? Faz, mas parece-me pouco produtivo a greve ser coincidente com a da função pública, porque se há reivindicações comuns, também há diferenças, já assinaladas, como o tratamento diferenciado da precaridade e a forma de progressão. Estas especificidades apontariam para dias de greve diferenciados, porque pode acontecer a função pública normal ser atendida, mas os professores por terem processos especiais, continuarem prejudicados, como tem vindo a acontecer.
Quanto à greve de novembro às horas não letivas, que se forem com alunos deviam ser consideradas letivas, assiste-se por esta via a um aumento da intensidade de trabalho dos professores, com mais de 22 horas com alunos (há quem tenha 27 horas), por via da coadjuvações e dos apoios. Quem tem reduções do artigo 79, acaba por as «perder» pelos mesmos motivos. Esta greve faz sentido para impedir esta intensificação do trabalho, que leva o governo a não gastar meios financeiros nos programas de melhoria em execução, pois basta ao governo intensificar o trabalho dos professores, considerando não letivas horas de trabalho com os alunos, para tentar fazer um brilharete.
Concluindo, para a greve de sexta-feira tenho dúvidas em aderir, porque não me parece boa tática não autonomizar os nossos problemas no conjunto da função pública. Para a segunda aderirei nas horas em que tiver alunos fora das aulas consideradas letivas.