As passagens administrativas
Vou chamar de passagem administrativa quando um aluno transita de ano com mais de 4 notas votadas (notas subidas por votação do conselho de turma). Estas situações acontecem porque há uma pressão do ministério (às vezes das próprias direções das escolas) para que não haja insucesso e porque na opinião pública há quem defenda que reter os alunos é desmotivante e pontenciador, por isso, de mais insucesso.
Todos sabemos da existência destas situações, além de que a impresa fez eco de algumas destas situações. Mas, hoje estou a refletir sobre elas porque me chegou aos ouvidos a seguinte história: numa reunião de um conselho de turma de uma turma do terceiro ciclo, com a presença de um representante dos encarregados de educação, os professores analisaram o comportamento dessa turma tendo realçado que este comportamento era inadequado por parte de alguns alunos, perturbando o funcionamento das aulas e também eram pouco ou nada empenhados no trabalho exigido na sala de aula. Depois de ouvir os professores e chegada a sua vez de falar, o encarregado de educação presente, disse mais ou menos o seguinte: esta situação era previsível, pois no ano anterior o conselho de turma tinha passado tais alunos com notas votadas, pelo que era natural estes alunos não terem necessidade de se esforçarem, nem de se portarem adequadamente, porque no ano anterior já eram assim e foram premiados com a transição de ano. Assim, não havia motivo para não continuarem com o comportamento já demonstrado no ano anterir e que foi premiado. Mais, como encarregada de educação responsabilizava os professores pelo que estava a acontecer e entendia os alunos mal comportados e pouco trabalhadores, pois, mesmo sendo assim tinham sido premiados, além de que esta situação prejudicava o seu educando e todos os outros que eram trabalhadores e bem comportados.
Este lado da questão posta pelo encarregado de educação contrasta com as pressões do ministério e da opinião pública e no meio fica o professor. Eu optaria pelo rigor, justiça relativa e pela salvaguarda futura de um ambiente de trabalho adequado, não cedendo ao facilitismo, que se vira contra o profissionalismo docente. Nesta altura de ataque feroz contra a nossa classe profissional a cedência ao facilitismo vira-se contra nós e só podemos queixarmo-nos de nós próprios, os que cedem às pressões e ajudam a descredibilizar a nossa classe. Nunca é o ministério responsabilizado pelas suas orientações para que haja sucesso a qualquer preço, pelo menos na imprensa.