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CONTRAOFACILITISMO

Blog para debater ideias que recusem o facilitismo em educação.

CONTRAOFACILITISMO

Blog para debater ideias que recusem o facilitismo em educação.

A questão dos exames e os planos de melhoria

vai-teaosprofessores, 31.01.18

Uma tese de doutoramento da universidade de Aveiro concluiu que os exames favorecem os alunos com capacidade económica para procurar explicações, centros de estudos ou colégios privados, para estarem preparados par esta prova que condiciona o acesso à universidade.

Os alunos sem capacidade económica não usufruem destes apoios, pelo que a escola, não está a criar igualdade de oportunidades, entre os com capacidade económica e os sem capacidade económica para se prepararem para o ingresso no ensino superior.

Este diagnóstico era mais ou menos percetível, mas agora dispomos de um estudo académico que o confirma. O caminho não será tanto de se acabarem com os exames, sem prejuízo de que estes possam ser alterados, mas em criar igualdade de oportunidades nas escolas. Aqui chegados, vamos questionarmo-nos se o plano de melhoria, que as escolas têm vindo a emplementar contribui para esta criação de igualdade de oprtunidades.

Uma das medidas deste plano de melhoria é a coadjuvação que é um passo na direção de criar igualdade de oportunidades, ao permitir um acompanhamento mais individualizado dos alunos. Em primeiro lugar este plano de melhoria trouxe mais recursos humanos às escolas que deles precisavam, em vez de dar créditos horários com base nos bons resultados da era Crato. Contudo, estes recursos foram insuficientes, pelo que se começou a usar os tempos não letivos dos professores para este fim. A melhor solução seria implementar mesmo o desdobramento das turmas, para que estes tempos fossem efetivamente letivos para os professores, proporcionando um ambiente mais adequado à aprendizagem dos alunos (com um máximo de 15 alunos nas turmas desdobradas). Nesta solução reconhece-se que a dimensão das turmas influencia as aprendizagens.

As salas de estudo têm sido uma solução que não tem tido a adesão dos alunos, porque os horários não se adequam aos alunos ou porque quem está disponível não é professor do aluno. Já os apoios direcionados para os alunos em dificuldade, quando dados pelos professores dos alunos têm sido bem frequentados.

Concluindo, deu-se um pequeno passo na criação de igualdade de oportunidades com os planos de melhoria, que significa apoiar os alunos que apresentam dificuldades de aprendizagem, mas este passo é tímido, devido às condições financeiras do país relacionadas com a escassez destes recursos e a necessidade de controlar o défice, além de que foi feito à custa do aumento da jornada de trabalho dos professores, na maioria das soluções.

 

A progressão na carreira pode criar instabilidade nas escolas

vai-teaosprofessores, 25.01.18

Neste ano os professores podem começar a progredir na carreira, se as condições exigidas para essa progressão estiver cumprida. Outros terão de cumprir as condições exigidas para poderem vir a progredir. Isto significa o regresso das aulas assistidas, da corrida à classificação de Muito Bom e Excelente, para se poderem livrar das quotas no acesso ao 5º e 7º escalão.

Mas tudo isto trás conflito para as escolas, porque há quotas na atribuição das boas notas e pode acontecer que entre dois bons professores só um pode progredir. Quem defendeu o colega que obteve a classificação vai criar inimizades no que não a obteve.

Assim, concordo plenamente que a progressão na carreira pode vir a criar muitas tensões e divisões entre professores, grupos e departamentos. A razão de ser destes conflitos está numa avaliação que obriga a escolher entre dois bons professores. O professor não escolhido perde motivação, logo este sistema de avaliação não é motivador, mas desmoralizador. Este é o grande pecado mortal da avaliação de professores, onde se devia distinguir entre bons e menos bons, escolhemos premiar um dos bons, cujo reverso da medalha será desmotivar o que terá sido bom, mas foi excluído por não caber nas quotas.

Além disso vamos ter esta instabilidade para se ganhar mais uma ou duas dezenas de euros, pois a progressão vai-se repercutir em mais remuneração repartida por quatro tranches de 25% num período de dois anos. 

Concluindo o atual sistema de avaliação de professores insere-se na linha de criar divisões dentro da mesma classe profissional, de dividir para reinar.

A parte da socialização na avaliação dos alunos

vai-teaosprofessores, 17.01.18

A avaliação dos alunos tem duas componentes, a parte científica relacionada com conteúdos das disciplinas (80%)  e as suas atitudes e valores, a que se chama se socialização dos alunos (20%). 

Como a escola, desde que tem a escolariedade obrigatória, tem alunos que estão «obrigados» nas escolas, há necessidade de intervir mais vezes nos sentido de socializar os alunos, suprindo défices que não foram transmitidos pelas famílias. 

Tudo isto vem a propósito de ter feito uma vigilância de um teste, em que os alunos não se coibiram, logo no início, de falar entre si e de copiar, ignorando a minha presença na sala. Claro que intervim e avisei que o próximo que falasse tinha o teste anulado e com zero por fraude. Ao que me responderam: copiar é fraude? Não é «desenrascanso»?

O teste que estavam a fazer até levantava a questão da mentira implicar a falta de honra. Portanto, os valores terão sido referenciados, nem que seja indiretamente através de textos. 

Portanto, a escola está comprometida com valores e atitudes, mas não pode ser uma ilha isolada na sociedade, a família tem que dar o seu contributo, bem como a sociedade através das suas práticas.

Mas reconheço que se pode fazer mais, porque se a maioria dos professores se empenha em socializar os alunos, reconheço que há colegas que ignoram esta vertente, porque é uma vertente que normalmente dá conflito entre professores e alunos. Nestes casos acho que se demitem de uma função importante do pofessor, mesmo sabendo que o nosso contributo pode ser reduzido e que caberá à família, em primeiro lugar e depois à sociedade, o grosso desse processo de socialização.

O perfil do aluno - visão crítica

vai-teaosprofessores, 10.01.18

O perfil do aluno é um documento do Ministério da Educação que está em discussão nas ecolas, para que toda a comunidade escolar se aproprie deste documento.

Começo por destacar que se pretende uma escola democrática, mas o modelo de gestão restringiu muito este debate democrático, quer para os professores, quer para os alunos, pois em vez de democracia direta temos um processo concursal para a escolha do diretor. Basta ver que antes deste modelo de gestão o confronto de ideias era vivo nas escolas, agora quase desapareceu e quem ousa propor algo diferente ou criticar os diretores pode ser alvo de processos disciplinares. Este aspeto não é um aspeto menor, pois a democracia ou se pratica ou não existe. Para mim este é o calcanhar de Aquiles deste documento, a falta de uma democracia genuina, mesmo à custa de menor eficiência de gestão, com mais protogonistas no poder em vez de tudo centrado na figura do diretor.

Com os princípios estou de acordo, são incontestáveis: base humanista, saber, aprendizagem, inclusão, coerência e flexibilidade, adaptabilidade e ousadia, sustentabilidade e estabilidade. Ainda que sobre a flexibilidade do currículo ainda se esteja a dar passos muito tímidos, a daptabilidade e ousadia, muitas vezes esbarra no controle excessivo, às vezes sufocantes, da gestão, a sustentabilidade, seja mais teórica do que vivida no dia a dia e a estabilidade, esbarra em concursos de professores que os desmotivam ao afastá-los das suas famílias. Apesar destes desfasamentos dos princípios com a realidade, estes princípios serão consensuais.

Sobre os valores também não haverá grande contestação, como responsabilidade e integridade, excelência e exigência, curiosidade, reflexão e inovação, cidadania e participação e liberdade. Além das já referidas limitações à cidadania, participação e liberdade, impostas pelo modelo de gestão, temos na prática em vez de excelência e exigência, muito facilitismo, empurrados pela tese economicista de que as retenções são desperdício de recursos e desmotivadoras para os alunos, teses estas que vêm de cima para baixo, no intuito de melhorar indicadores, a que os professores resistem muitas vezes, porque na sala de aula é-nos difícil justificar certas notas positivas, votadas, sem os alunos merecerem, o que provoca, muitas vezes, que os alunos que mereceram o 10 ou o 11, se desmotivem, porque vêem os colegas lá chegar sem transpirar. Mas não se criam condições financeiras para oferecer as melhores soluções de aprendizagem a cada aluno por falta de recursos financeiros que restringe a contratação de recursos humanos. A nossa escola ainda é uma escola de massas - a mesma solução para todos - e não uma escola com soluções à medida de cada caso, por escassez de recursos financeiros. Reconheço que há intenção de mudar de paradigma, com os planos de melhoria, que considero pouco eficientes devido à escassez de recursos e feitos à custa do aumento do trabalho (não-letivo) dos professores.

Sobre as competências, sabemos que estas não aparecem em pé de igualdade. Vejamos o caso dos cursos profissionais, muitas vezes lecionados sem condições adequadas para o seu funcionamento, devido a instalações físicas inadequadas - é diferente simular uma venda em ambiente de sala de aula, do que num espaço parecido com uma loja, ou ter uma cama articulada e um boneco para simular a manipulação de acamados nos cursos de geriatria. As artes foram colocadas fora das escolas normais, em guetos que têm sido subfinanciados. A atividade física limita-se a uma disciplina, com o desporto escolar pouco desenvolvido e vocacionado para a competição e não para a massificação da prática desportiva. Por fim, a falta de dinheiro, faz com que as escolas estejam deficitárias em equipamentos informáticos, o que limita o uso das novas tecnologias de forma mais generalizada: aprende-se as novas tecnologias nas escolas mas há pouco espaço físico e pedagógico para as usar devido à falta de recursos, muitas vezes os professores requisitam salas com meios informáticos e não as há disponíveis.

Concluindo, este é documento bem intencionado, mas sem recursos, não vai ser possível levá-lo à prática nas ruturas que propõe face ao que vigorava. É um bom documento no campo das intenções, mas não se vê forma de o concretizar sem reforço de meios financeiros e mudanças no modelo de gestão, na criação condições adequadas para os cursos profissionais, integração das artes nas escolas secundárias e melhorar substancialmente os meios informáticos ao dispor das escolas. Ou seja, o economicismo condiciona a qualidade de ensino e as soluções de fazer omoletes sem ovos não são soluções sustentáveis e excelentes.

 

Perspetivas na educação para 2018

vai-teaosprofessores, 03.01.18

Aqui vão as minhas expetativas na educação para 2018:

* subida muito lenta dos salários com progressão nas carreiras;

* recuperação lenta do tempo congelado, um ano em cada ano, com obrigação de ficar 2 anos em cada escalão (previsão minha);

* manutenção da ideia de que as retenções devem ser evitáveis, mas com meios financeiros limitados para as combater: tentativa de fazer omoletes sem ovos;

* tentar passar a ideia de que as retenções são evitáveis, com ações de sensibilização para os professores, em vez de melhorar os recursos para apoiar estes alunos;

* tentativa do governo de ficar com os louros dos bons resultados e de passar os maus para os outros;

* os professores são para controlar não para estarem motivados;

* a confusão entre tempos letivos e não letivos vai continuar

* manutenção de uma gestão centralizada nos diretores (o menos bom) ou nos presidentes de câmara (o pior) a nível local e no ministério a nível nacional - a autonomia continua a ser uma utopia;

* o fim da precariedade na função pública só marginalmente e a conta gotas chegará aos professores;

* a burocracia vai continuar, nem as novas tecnologias nos livram dela;

Concluindo, vai continuar tudo na mesma, com alguma (pouca) recuperação dos rendimentos.