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CONTRAOFACILITISMO

Blog para debater ideias que recusem o facilitismo em educação.

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A pedagogia diferenciada

vai-teaosprofessores, 07.02.18

A pedagogia diferenciada significa levar em conta o patamar de aprendizagem dos alunos e adaptar e criar condições para estes terem sucesso a partir desse patamar, além de levar em conta as caraterísticas do aluno. A forma de o conseguir passa por adaptar a organização escolar às necessidades desta pedagogia, do professor planificar a sala de aula tendo em conta a existência de grupos de alunos com necessidades específicas (ilhas) e haver meios de apoio às aulas que facilitem a aplicação da pedagogia diferenciada (mostram-nos a sala de aula do sec XXI, mas não financiam a sua implementação).

Antes de prosseguir convém alertar que o grande risco da pedagogia diferenciada é aprofundar/manter patamares diferenciados de aprendizagem, em que há grupos que atingem objetivos mais exigentes e grupos que atingem objetivos mais modestos, sendo esta pedagogia criadora ou continuadora de uma diferenciação. Portanto, corre-se o risco não de nívelar, mas de manter ou acentuar diferenças. Outro ponto que é realçado em entrevistas com professores franceses é  a «tensão entre o respeito pelo cumprimento dos programas e a sua reinterpretação em função das necessidades dos alunos», ou seja, ao darmos mais tempo para certas aprendizagens, estamos a pôr em perigo o cumprimento dos programas, pois o professor não tem autonomia para reescrever o programa, incidindo a aprendizagem num núcleo fundamental, principalmente em anos de exames.

Vejamos agora como operacionalizar este conceito a partir desta sitação de Annie Feyfant (2017): «direcionar as estratégias de ensino para as aprendizagens pretendidas, não abordar novas aprendizagens sem antes ter a certeza de ter ensinado os conhecimentos prévios necessários, garantir que cada aluno dispõe de tempo suficiente para fazer a aprendizagem» (Galand, 2009). Nestes princípios encontramos os elementos elencados nas modalidades de diferenciação expostas anteriormente, em termos de temporalidade (segmentar a atividade, maximizar o tempo atribuído à realização da tarefa), de processo (definir claramente os objetivos, explicitar, fazer avaliação formativa), de produção (propor exercícios suplementares), de estruturação (fazer corrigir). 

Quais os obstáculos à implementação desta pedagocia? Em primeiro lugar a dimensão das turmas, esta pedagogia é mais operacionalizável em turmas com menos alunos. Nas turmas grandes uma solução para a operacionalizar é a coadjuvação, em que a presença de dois professores permite dividir as ilhas/grupos por professor. O trabalho colaborativo de professores é essencial, mas este trabalho colaborativo exige que esteja previsto no horário dos professores tempo para coordenação. Depois é essencial haver reflexão sobre os processos implementados: voltamos ao mesmo, haver tempo para coordenação nos horários. 

Promover pedagogia diferenciada sem a escola enquanto organização criar condições para isso é responsabilizar os professores, sem haver compremetimento do ministério ou das direções. Isto tem sido feito à custa do aumento do trabalho dos professores, nos chamados não letivos.

Concluindo, a ideia pode e deve ser experimentada, mas sem dar condições (recursos humanos e investimento na modernização/ informatização das salas de aulas) propõe aos professores fazer omoletes sem ovos (só com recurso à boa vontade dos professores) é lavar as mãos como pilatos.