Há um comunicado de professores socialistas de sindicatos da CGTP que vem solicitar ao governo que cumpra o seu compromisso de dezembro, nomeadamente: a organização dos socialistas e simpatizantes do PS membros dos sindicatos da CGTP/IN vêm, deste modo, manifestar a sua perplexidade perante este comportamento desconforme com a boa-fé negocial, sem ter em conta a necessidade do PS de recompor as relações do Governo com os professores portugueses, depois de anos de chumbo e ataque aos professores portugueses e à Escola Pública.
A questão é colocada em termos de boa fé negocial e de recomposição das relações com os professores. Este ângulo de análise ignora a questão política de fundo, que já coloquei no post anterior - a discriminação dos professores em face de outros setores - e que é realçada pelo Santana Castilho, no seu artigo de hoje no jornal «o Público»:
«O Governo invoca a sustentabilidade das contas públicas para fazer tábua rasa de um Estatuto de Carreira que o PS aprovou, que está em vigor e como tal deve ser cumprido. Mas volta a insultar os professores quando a sustentabilidade não importa desde que os protagonistas sejam outros.
A EDP, que em 2017 ultrapassou os 1100 milhões de lucro, em vez de pagar 29,5% de IRC, pagou apenas 0,7%, por obra e graça de benefícios fiscais. Os 438 milhões que assim reteve não contaram para a sustentabilidade.
Os 1498 milhões de euros de encargos brutos que as PPP das estradas pesam no OE de 2018 significam uma redução de, apenas, cinco milhões, relativamente a 2017. Mas o aumento das receitas previstas é de 327 milhões. Em vez de coragem para extinguir as 22 perdulárias PPP rodoviárias, o Governo manteve a complacência de pagar rendas imorais, independentemente do número de viaturas que transitem nas autoestradas concessionadas, sem preocupação aparente relativamente ao impacto na sustentabilidade orçamental. Idem para os 471 milhões das PPP da saúde ou os 41 para o diligente SIRESP. E, cereja em cima do bolo, ao mesmo tempo que proclamava em Estrasburgo que “adiar as reformas só as tornará mais difíceis”, António Costa adiou a solução do monumental imbróglio do Montepio Geral, permitindo que a sua Associação Mutualista transformasse 251 milhões de euros de capitais negativos em 510 milhões de capitais próprios positivos, via uma milagrosa operação contabilística de créditos fiscais concedidos, no valor de 809 milhões de euros.»
Além do governo correr para salvar a banca, colocado por mim, Castilho fala-nos dos benefícios fiscais, das PPPs, do SIRESP e da Associação Mutualista Montepio. Estes militantes socialistas estão a ignorar que o problema de fundo é político e que em certos casos não há problemas de sustentabilidade, mas com os professores já há. Isto é política, para o capital não há problema se se mobilizam mais meios financeiros, enquanto para os professores (e outros trabalhadores) já não há meios financeiros!