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CONTRAOFACILITISMO

Blog para debater ideias que recusem o facilitismo em educação.

CONTRAOFACILITISMO

Blog para debater ideias que recusem o facilitismo em educação.

A luta dos professores - greve marcada às reuniões de avaliação

vai-teaosprofessores, 29.05.18

Os professores têm sido alvo de ataques que lhes tem minado o seu estatuto social, mesmo quando a sociedade os reconhece como dos mais confiáveis entre os funcionários públicos.

É chegada a hora de termos uma ação que inverta esta perda de estatuto com a greve marcada a partir de dia 18 de junho. Acontece que esta greve é muito cuidadosa, resultado de um certo compremetimento de alguns sindicatos com a geringonça. Ao ser muito cuidadosa é também pouco ambiciosa, porque o conflito quando é justo deve ser a doer. Mas é o que temos e a melhor opção é participarmos ativamente nesta luta.

Se hesitarmos agora sofreremos as consequências por muitos anos. Eu estou à vontade, porque os dois anos para mim serão suficientes para atingir o 10º escalão, mas mesmo assim estou disposto a ir à luta, pela dignificação da minha carreira profissional, porque mesmo reformado continuarei a ser professor com orgulho. Mas, se não conseguirmos agora a melhoria de estatuto ficaremos prisioneiros desta opção de não ter uma luta eficaz, por muitos anos, ficando com um estatuto desvalorizado e com tratamento diferente dos outros funcionários públicos.

Além disso, teremos de considerar que outras profissões têm lutado com sucesso na valorização das suas carreiras, como os médicos, enfermeiros, técnicos de diagnóstico. Sigamos os seus exemplos.

A manifestação do passado dia 15 foi um bom prelúdio desta nova luta, que ainda que tímida tem o factor favorável de poder ser abraçada por mais professores, que não gostam de prejudicar os alunos, o que está salvaguardado, com a exclusão da mesma dos anos que têm exames (9, 11 e 12).

É agora ou depois só nos podemos queixar de nós próprios.

 

O burn out e a cada vez maior carga horária nos professores

vai-teaosprofessores, 23.05.18

Costuma-se dizer que quem serviu nunca pode ser bom patrão. É um ditado popular que vale o que vale, mas é verdade que há quem se esqueça do que dizia quando era um simples zeco.

Vem isto a propósito de que já há quem ponha os professores a mudar cadeiras e mesas (lá para os lados do sul) ou a apagar os manuais devolvidos e escritos a lápis. Estes são casos extremo de quem manda.

Mas o normal é haver uma intensificação do horário de trabalho, além daquele que é implementado a nível central, com a transformação das horas não letivas em horas de trabalho com alunos, o que coloca muitos horários com cerca de 28/30 horas com alunos, quando deviam ser de 22 horas. Uma das formas que é usada para esta intensificação do trabalho são as horas para compensar os horários de 45 minutos, os chamados tempos remanescentes, muitas vezes usados em salas de estudo. 

Mas o mais comum é haver intensificação do horário com reuniões, de departamento, de grupo de ano, tudo porque está na moda o trabalho cooperativo. Mas o trabalho cooperativo pode ser concretizado sem reuniões, mas com troca de informações através das redes sociais, mail, conversa telefónica e conversas informais. Aqui continuamos a usar os métodos do século passado e não tiramos partido das novas tecnologias.

Já agora sobre o trabalho cooperativo não posso deixar de assinalar que o cargo de direção passou de coletivo a pessoal com o novo modelo de gestão, mas para os zecos temos de implementar o trabalho cooperativo. Isto é bipolar e contraditório!

Tudo isto, mais o lidar com alunos problemáticos, leva ao «burn out» da classe docente. Promovem-se estudos sobre este tema, mas quase ninguém tem a preocupação de implementar as conclusões, antes pelo contrário assiste-se é ao agravar das condições que levam ao agravamento das condições e horas de trabalho.

Há alunos que não querem!

vai-teaosprofessores, 17.05.18

Gosto de intercalar as análises de política educativa com casos concretos. Há uma forte pressão para que tenhamos as maiores taxas de sucesso possível, ou seja, os 100%. Se não o conseguirmos seremos maus profissionais (é contra este facilitismo que escrevo neste blog). Esta é uma política educativa não escrita, mas presente no dia a dia dos professores, por pressão de alguns diretores e do ministério. Se há insucesso a culpa é do professor, não é do sistema, não é do aluno, não é da família, é o raciocínio instituído!

Vejamos um caso concreto, um aluno não gosta de se levantar cedo e falta sistematicamente às primeiras aulas da manhã, quando não falta toda a manhã. O aluno acumula faltas injustificadas e insucesso escolar. Os professores alertam o DT e o DT alerta a família, tem mesmo uma reunião com o encarregado de educação e com o aluno. Há um compromisso de se alterar o comportamento. Inicia-se um plano de recuperação, quer das faltas, quer do insucesso. 

O plano é comprido com sucesso durante os primeiros dias, mas depois as coisas voltam ao (a)normal, o aluno continua a faltar aos primeiros tempos...

O sistema funcionou a escola representada pelo DT, reuniu com a família e foi estabelecido um plano. Mas o aluno rapidamente deixou de o cumprir, será que a família abrandou a vigilância inicial? 

Neste caso a culpa não é do professor, é do aluno, que acha que tudo lhe cai do céu, como o maná bíblico. Não está habituado a lutar pelo que obtém! Será que o professor devia ignorar os normativos e fechar os olhos? Será que o professor deve ter dois critérios, para chegar aos 100% de sucesso? Será que o professor deve abdicar da sua ética e deontologia profissionar e a todos passar? Não, o professor deve ser professor e deve avaliar e na avaliação há notas negativas, sempre com equidade de tratamento, olhando para o particular e procurando soluções para os problemas, mas não pode substituir-se ao aluno no desejo de aprender e de superar os seus problemas.

Este governo do PS e os professores

vai-teaosprofessores, 09.05.18

Este governo do PS foi uma oportunidade perdida para valorizar os professores, parecendo ter-se voltado aos tempos da MLR, no que respeita a tudo se fazer para desvalorizar socialmente este grupo profissional.

Foi-o porque neste final de mandato resolveu dar prioridade ao défice indo além do exigido por Bruxelas, o que limitou o investimento na saúde e na educação e na recuperação de rendimentos. Mas, isto não é específico da educação.

Específico da educação foi a não resolução de problemas de professores ou agravando outros, que desvalorizam o seu estatuto social, muitas vezes ficando aquém do que se fez noutros setores. Veja-se o caso da precariedade, onde os critérios não foram o mesmo de outros funcionários públicos tendo os docentes contratados regras mais exigentes para passarem ao quadro.

A progressão na carreira também penalizou os professores, na medida em que enquanto os funcionários públicos podem recuperar todo o tempo de serviço congelado para progredirem (com o sistema de pontos), devido ao seu sistema de avaliação, enquanto os professores ficariam limitados aos dois anos e mais uns meses propostos, alegando o impacto financeiro que teria se os critérios fossem equivalentes e justificando com a especificidade da carreira docente. Mas isto é desvalorizar socialmente os professores, retomando o ataque aos professores que começou com a MLR, que visava em último lugar desvalorizá-los socialmente. Aqui a atitude é mais por omissão e falta de equidade do que uma política mais ativa, mas que leva ao mesmo resultado.

A cereja em cima do bolo são as alterações aos concursos, como a dos horários completos, ou a exclusão das AECs das mesmas prioridades. Alteraram-se regras que funcionavam há vários anos. Esta última introduz distinções entre o trabalho docente, se é feito com contrato com o ministério ou com autoridades locais. Aqui desvalorizamos certos tipos de trabalho docente, que também é uma forma de desvalorizar todo o trabalho docente.

Concluindo esta equipa ministerial não resolveu os problemas dos professores, antes pelo contário ajudou a desvalorizar socialmente estes trabalhadores. Pode não ter recursos financeiros para melhorar, mas podia evitar, tendo sensibilidade social, ter contribuído para agravar as condições de trabalho dos professores, desde remunerações, critérios de progressão, horário de trabalho (onde nada fez), culminando na alteração de regras dos concursos.

A questão da municipalização da educação

vai-teaosprofessores, 02.05.18

Confesso que é uma matéria de que sei pouco porque este assunto é pouco transparente, no sentido de pouco debatido e escrutinado e muito centrado em negociações de bastidores. Parece que vai ter avanços com o pacote de descentralização acordado entre PS e PSD que resulta de uma viragem ao centro do PS com o aproximar das eleições.

Sei que temos uma gestão do sistema educativo muito centralizada no ME e com pouca autonomia das escolas. Parece que o caminho acordado pelos partidos chamados do «bloco central» é uma recentralização nas autarquias, nomeadamente da gestão das escolas, com o objetivo último de controlar a gestão das escolas. A ser assim, a autonomia das escolas fica a perder, tornando-se o diretor das escolas num assessor do Presidente da Câmara ou do vereador com o pelouro da educação. Concluindo abandonou-se o caminhar-se para a autonomia cada vez maior dos órgãos de gestão das escolas, dar-se-á mais poder às autarquias, mas o domínio do ME mantem-se.

Sinto que a classe dos professores liga pouco a este tema até porque é pouco transparente, centrando a sua preocupação nas questões que levam à melhoria dos seus rendimentos - progressão nas carreiras, contagem de todo o tempo de serviço e aumentos salariais que evitem erosão do poder de compra -, e nas questões dos horários de trabalho que têm sido intensificadas com o aumento da componente não letiva com trabalho com (alguns) alunos. Mas da municipalização da educação ainda pode vir graves transtornos ao papel social do professor ao serem ainda mais subalternizados nos processos de tomada de decisão. Esta não é uma questão menor na questão do prestígio social dos professores e na sua autonomia pedagógica e administrativa, mas porque não dá melhorias salariais e melhoria imediata nas questões dos horários, se torna pouco apelativa. Uma das graves consequências será alterações na contratação que tornem obsoleta a graduação nacional, que é um fator de imparcialidade e limitador dos clientelismos.

Concluindo, sei que a classe está pouco familiarizada e mesmo alheia, quer pelo pouco debate existente, quer pelo pouco interesse imediato, mas pode vir daqui uma machadada profundo na autonomia das escolas e profissional dos professores.