Nesta semana a educação está na informação em força devido a vários temas, desde os conteúdos/aprendizagens básicos ou essenciais, passando pelas provas de aferição até à greve dos professores, sendo esta última a mais debatida, até no debate quinzenal no parlamento.
Todos sabemos que cada governo produz as suas alterações na educação, uns nos os currículos, outros na estrutura de avaliações externas, outros ainda na educação especial. Esta falta de estabilidade nas escolas cria um problema estatístico de avaliação das aprendizagens, porque as séries estatísticas começam a medir coisas diferentes. Ou seja, em educação as coisas fazem-se mais por crenças e não por avaliação estatística científica. Posso até dar um exemplo, recentemente uma escola teve uma inspeção que introduziu a pedagogia diferenciada, mas não se fez a avaliação desta inovação em relação a uma turma de controle,mesmo que alguém o tenha sugerido, pelo que se agiu mais por crença, ou seja, mais próximos da religião do que da ciência.
A culpa desta instabilidade é dos ministros e secretários de Estado e todos querem deixar a sua marca, para constarem nos anais da política educativa. Daqui resultam estatísticas educativas em educação pouco credíveis, que exigem a introdução de variáveis dummy para se avaliar os resultados, mas como as alterações são constantes haveria tantas variáveis dummy a introduzir que esta tarefa se torna estaticamente impossível.
Feito este enquadramento da análise dos resultados, temos de olhar para a notícia de ontem sobre as provas de aferição com precaução. Em primeiro lugar não podemos desenquadrar a escola da sociedade e com os gadgetes é natural que os alunos não façam atividade física. Em segundo lugar não temos provas de anos anteriores para comparar, por isso só podemos fazer uma análise simplista dos dados e concluir que daqui para a frente os professores têm de dedicar mais tempo a certas aprendizagens, como os alunos do 2º ano aprenderem a saltar à corda e a fazer a cambalhota e os alunos do básico saberem colocar Portugal na Europa em função da rosa dos ventos. As provas de aferição dão-nos, pois, indicadores brutos de matérias que precisam de reforço no processo de ensino/aprendizagem, mas não nos dão por falta de continuidade estatística credível possibilidade de fazer comparações temporais.
Por fim, falta referir a questão do conflito governo / professores que levaram estes últimos a partir para uma greve. Em primeiro lugar nesta fase de reposição da situação antes da tróica, os professores ainda não viram ser reposto a carga horária com o respeito pelo princípio de que trabalho com alunos é tempo letivo. Tal como a maioria dos funcionários públicos passaram a trabalhar mais horas durante a tróica, também nós o fizemos, mas uns passaram das 35 para as 40 horas e outros, os professores, aumentaram a sua carga letiva com horas não letivas, mas de apoio aos alunos. Uns já voltaram às 35 horas, outros, os professores ainda não viram ser alterado a passagem de horas letivas para não letivas. Primeira injustiça.
Em segundo lugar, os funcionários públicos recuperaram todos os anos na avaliação. Aos professores só querem recuperar um terço do tempo perdido. O argumento, apresentado ontem por Costa e Sousa Tavares, numa perfeita orquestração, é que a carreira dos professores é mais rápida que dos outros funcionários públicos e esta proporção permitiria equipará-los(!). O que se passa é que são carreiras muito diferentes e não comparáveis, além de que se esquecem que os professores têm dois bloqueios na progressão nos 5º e 7º escalão sujeitos a quotas, pelo que não se justifica qualquer comparação. A tentativa de as comparar é política, meramente para justificar uma subversão do estatuto da carreira docente, que seria na prática revisto ad-hoc e o não cumprimento do OGE2018.
Concluindo em termos de recuperação os professores têm sido deixados para trás, como já tenho defendido o que está aqui verdadeiramente em causa é saber se valorizamos os professores e a educação ou se continuamos o caminho do governo anterior de desvalorizar os professores porque pesam no orçamento do Estado, além de que aceitamos prolongar por vários anos as reposições - pelo que os 600 milhões de euros, se reais só seriam atingidos em 2023, pelo que lançar este número em 2018 é pura demagogia, além de que para a banca não há restrições orçamentais. Ora nos dois últimos anos do mandato deste governo, com a prioridade à dívida, o PS deliberadamente, afastou-se da esquerda e dos seus valores, como a defesa dos trabalhadores, da melhoria da educação e da saúde, para abraçar valores mais ao centro, capazes de garantir a maioria absoluta. Mas perder os professores pode ser perder a desejada maioria absoluta...