Assisti a semana passada a uma formação sobre a reforma em curso na educação, dada pela professora Arina Cosme, que me elucidou sobre o alcance das reformas em curso, dando-me uma visão holística destas transformações que englobam o perfil do aluno, a educação inclusiva e a reforma curricular e a flexibilização.
Os objetivos destas reformas são promover uma alteração dos objetivos dos ensino básico e secundário, ao mesmo tempo que se procura flexibilizar a organização escolar adaptando-a às alterações tecnológicas que se têm verificado a apartir do último quartel do século XX.
Como professor do ensino básico e secundário, reconheço que há muito a fazer para transformar o ensino e que há nestas transformações algumas boas ideias, como dotar este nível de ensino de objetivos próprios, refletidos no perfil do aluno. Como de costume os fins são relativamente consensuais, ficando a dúvida, já expressa neste blogue, se estas transformações são exequíveis sem um acréscimo de meios financeiros? Algumas serão possíveis mas outras exigem um envelope financeiro. Exemplo, se hoje temos uma pernafernália de meios tecnológicos, não faz sentido dar-se aulas, somente com um quadro ou somente um quadro e um projetor, é preciso haver computadores ou tabletes para os alunos, para que a sala de aula possa mudar. Ora, neste momento, não há programas para equipar as salas de aulas com novos meios tecnológicos. A Câmara oferece uma sala (muito pouco) e a associação de pais tem em curso uma recolha de fundos para equipar outra sala, ou seja, estamos no domínio do «desenrasca».
Depois é preciso melhorar a interdisciplinaridade, com a flexibilização do currículo, mas aqui além de salas sem estarem equipadas, reconheço outros obstáculos, desde a falta de créditos em escolas com o corpo docente envelhecido, créditos esses comidos pelo 79 - redução do tempo letivo dos professores devido à idade -, até resistências dos professores. Mesmo que se ultrapasse a resistência avançando os voluntários, faltam os créditos e aqui o problema está no Ministério que não os disponibilizou em função das necessidades de cada escola, sabendo que os docentes abrangidos pelo 79 são cada vez mais. Mais uma vez uma boa ideia que só se pode aplicar de forma mitigada porque faltou o envelope financeiro que permita dar mais créditos ás escolas - o que significa contartar mais professores - com muitos professores com redução devido à idade.
Por fim a reforma curricular com as aprendizagens essenciais, feita em diálogo com as associações de professores em vez das universidades, poucas alterações produziu face às metas curriculares do Crato. No básico com o fim de muitos exames há mais espaço para se inovar, apesar de se manterem os exames do 9º ano, ainda que só a duas disciplinas. Pelo menos as outras podem concentrarem-se no alcance de objetivos relacionados com o perfil do aluno. Mas estas transformações esbarram na manutenção dos exames no 12º ano no secundário: não se pode ter pedagogia diferenciada quando há uma avaliação igual para todos. Aqui faltou coragem de enviar para o superior a forma de acesso a este grau de ensino como se faz em todo o mundo, continuando a sobrecarregar de trabalho os professores com um objetivo que não devia ser deste grau de ensino, e minimizando o estabelecido no perfil do aluno, ou seja, no secundário não se aplica o perfil do aluno no ensino regular.
Concluindo, boas ideias, tentando-se fazer omoletes sem ovos, ou seja, sem dinheiro e faltando coragem política de levar até ao fim os objetivos próprios do ensino básico e secundário, continuando este grau de ensino refém da forma de acesso ao superior, o que não permite concretizar os tais objetivos próprios. Por fim referir a pressa em fazer tudo isto antes do último ano desta legislatura, fazendo sair normativos em cima do começo do ano letivo, atrasando o funcionamento normal do ano escolar, por exemplo, dúvidas sobre critérios de avaliação que estas transformações modificaram. Positivo foi ter havido uma avaliação prévia das medidas em projetos piloto.