Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

CONTRAOFACILITISMO

Blog para debater ideias que recusem o facilitismo em educação.

CONTRAOFACILITISMO

Blog para debater ideias que recusem o facilitismo em educação.

Balanço da experiência com o 10º ano

vai-teaosprofessores, 30.01.19

Depois de um interregno de alguns anos voltei a lecionar um 10º ano.Foi uma decisão ponderada para fazer um trabalho de fundo durante 3 anos com os mesmos alunos, em cursos profissionais que têm tido turmas problemáticas. Antes apanhava-os só no 12º ano porque ninguém queria dar uma dada matéria e sobrava para mim, que não me importava.

No primeiro período houve uma luta para os fazer perceber que havia regras a cumprir e alguns deles influenciados pelos alunos do 11º e 12º ano tentavam repetir os erros dos colegas mais velhos, como não estar atentos nas aulas, chegar atrasados sistematicamente, comportarem-se nas aulas como num café. Com o fim do primeiro módulo houve quatro alunos sem aproveitamento, um deles fez a recuperação com sucesso. Alguns destes alunos tiveram de recuperar faltas injustificadas na biblioteca (devido a atrasos significativos) e nos casos de indisciplina e má educação houve a devida participação de ocorrência com conhecimento aos encarregados de educação pela DT.

Ao fim de um mês de aulas no segundo período já se nota aproveitamento em todos os alunos, num outro módulo, não há faltas injustificadas e atrasos e não há ocorrências disciplinares.

Cumprindo a legislação em vigor mas não deixando de haver consequências para as atitudes sancionáveis, acho que a minha aposta foi ganha e esta turma vai deixar de ter a má fama que as turmas dos alunos mais adiantados têm.

 

Introduzir «as questões de aula» na avaliação

vai-teaosprofessores, 23.01.19

A avaliação estava, no passado, centrada nos testes, que incidiam sobre um volume grande de matéria. Uma forma possível de melhorar os resultados, sem entrar no facilitismo, é ter mais momentos de avaliação, que incidam sobre muito menos matéria e além disso, permite fazer a avaliação logo depois da matéria explicada, não havendo desfasamentos entre o ensino e a avaliação. Uma forma de concretizar esta estratégia é implementar as questões de aula.

Fi-lo agora de forma sistemática e já posso fazer uma avaliação dos resultados. Houve 8 negativas em 29 alunos, 27%. Portanto, os resultados não foram famosos ao nível das negativas, mas as notas foram mais altas nas positivas, tendo havido uma subida da média da turma.

Concluindo, o aluno que acompanha a matéria sobe as médias, mas o aluno desinteressado continua a não se empenhar, o que parece deslocar o problema para a motivação do aluno que é um obstáculo à mudança de estratégia do professor.

A pedagogia diferenciada e o justiça relativa

vai-teaosprofessores, 16.01.19

Com os decretos 54 e 55 instituiu-se a pedagogia diferenciada, que consiste em tratar os alunos de forma diferenciada conforme as suas potencialidades. Já num post anterior tinha alertado para que este tratamento diferenciado pode criar injustiças relativas. Por exemplo se existirem testes diferentes, quem fez o teste teoricamente mais difícil e  tivesse feito o teste mais fácil, teria uma melhor nota. Em relação ao modelo antigo em que tínhamos perguntas mais diretas para 10/12 valores, depois mais 4/5 valores de grau de dificuldade intermédio  e os restantes para perguntas que exigem um raciocínio mais complexo, agora temos um teste diferenciado para alunos com mais dificuldades, com mais perguntas diretas ou só com perguntas diretas ou de escolha múltipla. 

Na nova legislação são as chamadas medidas universais para lidar com o insucesso, que podem ser aplicadas a todos os alunos que delas precisam, só por um período de tempo limitado ou permanentemente, conforme o tipo de dificuldade esteja relacionada com uma dada matéria ou se se verifica permanentemente.

Um grupo disciplinar decidiu aplicar um teste de recuperação limitado a um grupo de questões do teste inicial em que os alunos tenham tido pouca pontuação, ajudando-os a preparar esta recuperação, para alunos com notas negativas ou com 10 (considera-se o 10 uma nota de risco no exame), não podendo a nova nota ultrapassar os 11 valores, para limitar as injustiças a quem não teve a segunda oportunidade. Neste caso tenta-se mitigar a possibilidade de injustiças com o teto da nova nota nos 11 valores.

Concluindo, há uma alteração profunda na avaliação dos alunos decorrentes da pedagogia diferenciada, que cria injustiças relativas, que podem ser mitigadas com tetos das notas a atribuir na recuperação. 

Um exemplo de verdadeiro ensino profissional e de inserção

vai-teaosprofessores, 09.01.19

Vi na semana passada um filme, com a ação localizada numa região fronteiriça dos EUA, com muitos alunos falantes de espanhol e problemas de legalidade. A história é esta: a direção da escola decide criar uma área de projeto, em que os alunos procuram competir num concurso numa universidade californiana, em que construindo um aparelho submersível teriam de desempenhar tarefas como fazer medições, retirar objetos, captar líquidos, etc.

Passando ao «the end», num confronto com universitários ganham o 1º lugar, utilizando soluções de engenharia rudimentares, mas eficazes e imaginativas, porque as suas soluções são de baixo custo. O orçamento foi de 800 $, um décimo dos seus concorrentes.

Este é o objetivo dos cursos profissionais, alncançar resultados palpáveis e estimular a criatividade e a resolução de problemas, com os recursos disponíveis.

No nosso país o ensino profissional, nas escolas secundárias, estão insuficientemente equipadas, aproveitando-se basicamente recursos humanos existentes, pelo que proliferam cursos mais teóricos que práticos. Nas escolas profissionais a realidade é outra, pelo menos em algumas que visitei.

Em relação ao exemplo do filme, o projeto tinha um professor dedicado, o empenho da direção em inserir alunos problemáticos, mostrando a diretora conhecimento pessoal de todos os alunos e a tentativa de envolver as famílias no apoio ao projeto.

Comparando connosco, com os mega agrupamentos, as direções não conhecem individualmente os alunos, poucos agrupamentos têm horas para profesores afetados a projetos especiais para alunos problemáticos.

Concluindo, o exemplo fala por si e realça as diferenças existentes entre as duas realidades, com Portugal com muito que fazer no âmbito da reorganização do ensino e para criar um ensino profissional mais consentâneo com os seus objetivos. A vertente de inserção social daqueles alunos também é um exemplo determinante nesta comparação.

 

Perspetivas para 2019

vai-teaosprofessores, 03.01.19

O ano de 2019 é um ano de eleições, que decidirão se o governo é só do PS ou tem de continuar a haver coligações, continuando a de esquerda ou o PS vira-se para a direita? Havendo coligações serão de incidência parlamentar ou mesmo de governo?

Acho que na educação pouca coisa mudará com a continuação de um governo PS só, principalmente se um dos secretários de estado for promovido a ministro. Se for nomeado um outro ministro com peso político, com a vontade de deixar marcas que é caraterística de todos os ministros, pode haver alterações de política educativa. De que sentido? Um dos dilemas que tem de resolver é se predomina o perfil do aluno ou se se mantêm os exames (este dilema emana da legislação publicada pela atual equipa que não pode ou não quis tomar uma opção sobre esta questão). Este dilema será possível de resolver com a maioria absoluta, que permitirá ter força política para atirar para as universidades a escolha dos seus alunos, concentrando-se o ensino secundário em formar os alunos, segundo um perfil do aluno, este ou outro, sem se preocupar com a serieação dos alunos.

Num governo mais à esquerda, admito que esta pasta possa ser entregue a um parceiro de coligação governativa, porque uma vez resolvida a questão dos salários dos professores a despesa pública educativa estará estabilizada e esta pasta pode ser controlada facilmente pelo ministro das finanças e pelo parlamento. Neste caso perspetivo o aprofundamento da implementação da autonomia curricular na perspetiva de se implementar e aprofundar a interdisciplinaridade, maior preocupação com a inclusão (não só no papel mas acima de tudo na prática) e o esclarecimento da questão dos tempos letivos e não letivos (a segunda questão fundamental para os professores).

Com o PS aliado à direita a predominância dos exames vai manter-se, vai-se avançar mais com as aulas observadas para se controlar mais os professores, impondo-se deliberadamente a supervisão pedagógica em força. Com este tipo de coligação avançará também em força a municipalização da educação.

Termino realçando que cada um de nós vai ser chamado a decidir qual destas perspetivas se vai concretizar ao colocar o nosso voto nas urnas.