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CONTRAOFACILITISMO

Blog para debater ideias que recusem o facilitismo em educação.

CONTRAOFACILITISMO

Blog para debater ideias que recusem o facilitismo em educação.

O que mudou e o que não mudou nestes 4 anos de governo na educação?

vai-teaosprofessores, 27.02.19

O que não mudou foi o número de alunos por turma, continuo a ter turmas de 29/30 alunos. Não mudou o acesso às tecnologias da informação, continuamos com 5 salas com computadores para 50 turmas, uma para cada 10, logo dar aulas em condições do século XXI é só a pedido e sujeito a lista de espera. O ensino profissional continua a não ter condições para se lecionar em boas condições as disciplinas técnicas, pois continua a usar-se uma sala normal, quando se deveria usar pelo menos salas com computadores ou salas especializadas. 

O que mudou, foi a pedagogia diferenciada, isto é adaptar o ensino às caraterísticas / capacidades do aluno, generalizaram-se as aulas de coadjuvanção, mas estando estas a acontecer uma vez por semana, no melhor dos casos, ou uma vez de 15 em 15 dias, ou seja aulas coadjuvadas em 1/6 ou em 1/10 a 1/12 do total das aulas, portanto com um impacto pouco significativo. Temos agora uma nova área curricular de cidadania e desenvolvimento que é um remake da área escola e que permite tratar temas de interesse para a sociedade.

A pedagogia diferenciada é uma forma de combater o insucesso escolar, mas alterando o nível de exigência, ou melhor permitindo haver diversos níveis de exigência. Aqui surge a maior indefinição das alterações feitas: baixa-se o nível de exigência mas não se acaba com as avaliações externas no 9º ano e secundário, ou seja, se o que interessa é o perfil do aluno e seu progresso, porque não ter coragem de acabar com as avaliações externas e transferir o acesso ao superior para este, corolário lógico do perfil do aluno e da educação inclusiva e suas medidas universais?

Concluindo, as condições em que se leciona (alunos por turma e salas equipadas com TICs) não foram melhoradas porque isso exigia investimento. Procura-se dar uma educação integral via perfil do aluno, mas faltou a coragem de alterar a avaliação externa e o acesso ao superior que mede somente os conhecimentos escolares (cada vez menos importantes com o acesso rápido à informação)  e não as competências adquiridas, pelo que fica somente uma baixa do nível de exigência para alguns alunos via pedagogia diferenciada, com vista a melhorar os resultados.

Já à muito se conhece esta tática social que é desvalorizar os graus de ensino e transferir para o nível seguinte a exigência, daqui resultando uma desvalorização social dos níveis de ensino mais baixos que prejudicam a ascensão social, uma vez que aumenta os gastos com a educação das famílias (exigindo um esforço suplementar aos mais pobres), sem a correspondente recompensa social e correspondente melhoria social dos seus filhos.

Ainda a propósito da greve dos enfermeiros

vai-teaosprofessores, 20.02.19

O que se está a passar com a greve dos enfermeiros deve-nos preocupar a todos. Não li o parecer da PGR, mas o que salta à vista é que o direito à greve está a ser posto em causa, por um governo do PS, com apoio da esquerda, que se tem calado e tem tomado posições sectárias sobre algumas situações.

Veja-se, no caso dos professores, o desprezo dos sindicatos com a ILC, foi flagrante, estando estampado que ou são os sindicatos (Fenprof) a fazer ou outras iniciativas são divisionistas. Ora eu acho o contrário, foi a Fenprof que foi divisionista (estou à vontade sou sindicalizado no SPN) e tentou bloquear uma iniciativa dos cidadãos.

Depois com a greve de enfermeiros, quem não se lembra daquelas declarações de que fazer greve é perder o salário dos dias de greve, senão estaremos perante «greves burguesas», com a hipótese de haver interesses privados que a estejam a financiar, através do crowdingfund, cuja lei foi aprovada por todos os partidos há pouco mais de 2 anos - traduzi em linguagem própria a situação para tornar a minha ideia mais assertiva. Aqui o que se passa é tirar-se partido das novas tecnologias, o que pode enfraquecer o poder dos sindicatos instalados e colocar o poder perante novos desafios, que respondem limitando o direito à greve? Estamos perante uma velha questão: há os que se adaptam aos novos tempos e os que ficam cristalizados, correndo o risco de serem ultrapassados. Mas nada disto justifica que se tente limitar o direito à greve quando esta tem forte impacto.

Outra questão é a defesa do serviço nacional de saúde. Mas esta defesa pouco tem a ver com greves, tem a ver com o facto de Portugal já ter 40% da saúde entregue a privados, contra 15% na Europa; tem a ver com políticas de promoção dos privados à custa do SNS; tem a ver com a intenção deliberada de enfraquecer certos serviços públicos para promover o recurso aos privados; tem a ver com o subaproveitamento da capacidade instalada para favorecer privados.

 Concluindo, estamos perante um ataque ao direito à greve, em que por taticismo embarca alguma esquerda, receosa de perder poder (o governo a desejada maioria absoluta, a outra esquerda a hegemonia sindical), e devemos evitar introduzir a questão da defesa do SNS neste contexto, pois o seu ataque é quotidiano e leva décadas e a questão da greve só serve para desviar as atenções deste ataque. Parece-me correta a nova lei de bases da saúde que vai abrir caminho para que alguns recursos financeiros regressem ao SNS e deixem de ser para promover os privados. É por aqui que passa a defesa do SNS, aplicar nele a maioria dos recursos financeiros.

A luta dos professores e outras lutas

vai-teaosprofessores, 13.02.19

Depois de anos de austeridade todas as classes profissionais têm reivindicações a fazer. Como os recursos são limitados, a satisfação das mesmas vai depender da capacidade de mobilização de cada classe profissional. Ou seja, os que conseguirem ter mais impacto serão os que terão hipótese de ganhar alguma coisa. Claro que as reivindicações mais radicais terão menos hipóteses de ser atendidas, porque o governo receia o efeito de arrastamento - no caso dos enfermeiros acho que o salário de entrada pedido e a questão da reforma foram excessivas na minha opinião face à conjuntura.

Como disse o Guinote no seu excelente artigo de ontem no público, os professores falharam em arranjar lutas criativas, enquanto os enfermeiros conseguiram arranjar formas de luta inovadoras e de grande impacto. A questão do financiamento já tinha sido ensaiada por nós (professores) em greves anteriores, mas agora a mobilização falhou, apesar de ter sido uma pedrada no charco o pré aviso de greve no final do ano letivo passado do STOP.

Por outro lado, há iniciativas de professores fora dos sindicatos, como a iniciativa de cidadãos na AR que está a ser boicotada pelas estruturas sindicais, ainda em fase de seguir o seu caminho.

A divisão de uma classe profissional entre os institucionais e os não institucionais é um absurdo e divisionista, mas de facto é o que está a acontecer e não facilita as lutas reivindicativas.

O governo quando está em luta com uma determinada classe lança uma campanha de desacreditação das reivindicações em causa, às vezes extravasando o razoável e denegrindo uma classe profissional.

No caso dos professores foram as notícias sobre o salário dos professores portugueses na OCDE, com dados incorretos, no caso dos enfermeiros agora o não cumprimento dos serviços mínimos, quando se ignora que já existiam listas de espera, mas agora é tudo culpa dos enfermeiros. São táticas de agitação e propaganda, para desculpar a falta de recursos alocados ao SNS e à educação dos governos e pôr o onus nos profissionais, mmesmo que a população tenha uma perceção diferente desssa classe, como a confiança nos professores.

Concluindo, temos de ser criativos e neste aspeto a greve dos enfermeiros é um exemplo par nos fazer refletir e evitar as divisões, que se acentuaram nos últimos anos, agora entre institucionais e não institucionais, além de que devemos estar preparados para o denegrir das profissões em luta feita cirurgicamente pelo poder.

A questão tecnológica e a política educativa.

vai-teaosprofessores, 06.02.19

Tenho vindo a alertar neste blog para as precárias condições de acesso às TICs na escola onde estou. Numa lógica de estudo de caso, a minha escola tem 5 salas informáticas para cerca de 40 turmas. Algumas disciplinas têm horário marcado nestas salas, porque o programa exige meios informáticos, mas outras, quem queira fazer um ensino diferente, baseado na pesquisa, têm de requisitar as ditas salas.

Nestas condições dar uma aula já com condições do século XXI é uma miragem porque não há salas de informática disponíveis. Uma delas até foi financiada pela associação de pais. Os computadores na maioria delas estão obsoletos, com mais de 15/20 anos de vida, tirando alguns oferecidos recentemente.

Mas o ministério passou por cima deste problema, ignorando-o, e agora num estudo internacional foi detetada a degradação tecnológica das condições de ensino em Portugal, concluindo que «são cada vez menos os alunos que podem contar com a escola para terem acesso ao mundo digital». Comparamos com países onde quase todas as salas estão bem equipadas tecnologicamente. Uma reportagem sobre uma sala de aula em França mostra computadores disponíveis para cada aluno, testes realizados num computador, etc. 

Mas em vez de ir resolvendo este problema o ministério da educação fez um passe de mágica, passou por cima deste problema que exige meios financeiros e colocou na agenda a flexibilixação curricular, que é uma tentativa de reorganizar a escola sem gastar dinheiro, exceto em formações.

Questiono-me se a questão tecnológica não devia acontecer antes da flexibilização curricular, na medida em que é um meio de a promover? Eu acho que seria essa a lógica, mas como não há (cão) dinheiro, avança-se (caça-se) com (gato) com a flexibilização curricular. Esta seria precisa, mas com autonomia, e seria mais fácil com meios tecnológicos adequados.