Os profissionais sem exames no acesso à universidade
A contradição entre o perfil do aluno e a existência de exames começa a ser resolvida, ainda que sem coragem política de assumir o fim integral dos exames, ao ser dado um pequeno passo com o fim dos exames nos profissionais. Em época eleitoral não houve coragem para mais.
Mas este anúncio não deixa de ser um anúncio do fim dos exames possivelmente no início da próxima legislatura.
Para mim faz sentido ser o ensino superior a escolher os seus alunos. Contudo este modelo tem perigos. Um deles é o predomínio do sucesso escolar a qualquer custo, o que vai fazer baixar a exigência das escolas que sucumbirem a esta política. Com os novos decretos 54 e 55 já estamos neste caminho, com a obrigação de se baixar a exigência aplicando as chamadas medidas universais a todos os alunos com insucesso, o que significa na prática baixar o nível de exigência para os alunos com dificuldades. Assim, garantimos o sucesso. Mas há situações em que o aluno não quer esforçar-se e aqui o professor nada pode fazer, mesmo baixando o nível de exigência, nas provas de recuperação que tiver de fazer, pois sem qualquer estudo não há resultados.
Outro perigo é este tipo de medida ser um balão de oxigénio para o ensino privado que terá de preparar os alunos para as universidades com provas de acesso mais exigentes. Estamos indiretamente a desvalorizar o ensino público e a promover o ensino privado.
Com a diminuição de alunos resultado da situação demográfica há outros vencedores o ensino superior de segunda linha, porque passa a ter mais candidatos, ainda que pior preparados, mas talvez se inverta a diminuição do número de alunos em certos cursos do superior, principalmente nos politécnicos.
Concluindo, concordando que o ensino secundário deve ter uma lógica própria e o perfil do aluno abre caminho a diversas formações, não deixa de haver o perigo de haver o predomínio do sucesso a qualquer custo, transferindo a verificação da qualidade dos alunos para o superior, situando-se a luta da ascenção social ou manutenção do estatus social para as provas de acesso de certas universidades as de elite, dividindo-se o superior em duas categorias: as de elite e os outros.
Sengunda conclusão: a política de facilitismo é uma política de direita na medida em que dificulta a ascensão social ao exigir investimento em educação (explicações, ensino privado) para se aceder aos melhores cursos, uma vez que o trajeto normal pode não garantir esse acesso.