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CONTRAOFACILITISMO

Blog para debater ideias que recusem o facilitismo em educação.

CONTRAOFACILITISMO

Blog para debater ideias que recusem o facilitismo em educação.

Ânimos exaltados na sala de professores: um debate sobre medidas universais.

vai-teaosprofessores, 29.01.20

Ânimos exaltados na sala de professores: um debate sobre medidas universais.

Não foi por causa do aumento irrisório de 0.3%. Não foi por causa do tratamento especial para os agressores dos magistrados. Não foi pelo silêncio ensurdecedor do ministro quando há professores agredidos. E podia continuar com um rosário de queixas que atinge a classe.

O motivo do debate aceso foi uma «medida universal», a repetição de um grupo num teste em que o aluno tenha tido negativa, com o objetivo de chegar à positiva. Os defensores desta medida aplicam-na no âmbito das medidas universais e para motivar os alunos.

Do outro lado, o argumento é que se é dada uma oportunidade a alguns alunos somente, estamos a criar discriminação, pois quem tira positiva não tem uma segunda oportunidade. Alguém dizia que tinha dois filhos, um que tirasse negativa podia chegar à positiva, outro que tinha tirado positiva já não podia ter a oportunidade de subir a nota, podendo no limite ficar com a mesma classificação. A escola está a discriminar negativamente os alunos médios e acima da média ao aplicar este tipo de medidas.

Este debate mostra como os professores debatem com alma as alterações introduzidas pelos decretos 54 e 55. Nunca tinha visto a sala de professores tão animada. Mostra a grande preocupação dos professores com os alunos e por eles discutem, quando aparentemente se resignam com os ataques à profissão.

Este debate mostra que está a ser imposta às escolas um novo paradigma, a de se trabalhar com fatos feitos à medida, em vez de se estipular um uniforme único, ou seja, trabalhar-se para o aluno médio. Há medidas para os alunos com dificuldades de aprendizagem, mas também há medidas para os alunos com boas notas que podem ter exercícios com maior grau de dificuldade, por exemplo em aulas de coadjuvação em que um professor acompanha os alunos com dificuldades e outro acompanha os outros, com exercícios adequados a cada situação.

O problema desta alteração de paradigma é que está a ser feita com um acréscimo marginal de recursos: há somente coadjuvação de 15 em 15 dias. O teste de recuperação é feito em aulas normais e aumenta a ocupação de tempos letivos com a parte avaliativa à custa da parte da aprendizagem. Outro problema é a contradição das medidas universais e os resultados em exames – muitos dos alunos que atingem a nota positiva mínima não conseguem passar em exame.

Percebo que quem tenha filhos que são bons alunos e que por 1 valor podem não ter acesso ao curso pretendido veja aqui uma discriminação, pois o apoio a estes alunos é esporádico, enquanto as medidas para os alunos com dificuldades são mais efetivas na procura de percursos limpos e taxas de retenção mais baixas.

Concluindo, quando mexem com os alunos, os professores participam e discutem, parecendo anestesiados quando estão em causa os ataques à sua profissão.

A desvalorização das competências para ensinar: mais uma machadada na profissão docente

vai-teaosprofessores, 22.01.20

Uma das medidas mais graves que vi tomadas em educação foi sem dúvida a desvalorização das competências para ensinar nos grupos carenciados em professores, nomeadamente em informática em que uma simples ação de formação é suficiente para se ser professor da área.

Os professores têm vindo a ver desvalorizada a sua profissão por motivos financeiros, dado que são uma das profissões onde a formação superior predomina e com mais elementos, em relação a médicos e magistrados. Também por motivos políticos por serem um obstáculo às visões neoliberais da educação, onde se valoriza os resultados e a avaliação, incluindo a profissional. O receio da capacidade reflexiva desta classe tem levado a tentar subjugá-la, uns pela imposição da mercantilização da educação, outros pelo facilitismo para obter resultados, mantendo os exames em contradição com outros objetivos para o ensino não superior explicitados no estatuto do aluno, receando politicamente o resultado da definição clara do que se pretende para o ensino básico e secundário e suas consequências para o acesso ao superior.

Na crise financeira sofreram um agravamento da intensidade do trabalho principalmente com a consideração como tempo não letivo de alguns trabalhos com alunos, como se fosse diferente preparar uma aula ou um apoio para meia dúzia de alunos. Esta situação ainda não foi revertida no pós troica.

Recentemente as situações de agressões continuam a ser ignoradas pela tutela, ao contrário da reação pronta do ministério da saúde, além do tratamento desigual quando magistrados são agredidos.

Mas a cereja no topo do bolo é a desvalorização técnico-científica da profissão em que uma simples ação de formação serve para criar competências profissionais. Esta desvalorização técnico-científica já tinha tido um episódio com a redução do efeito para progressão dos mestrados e doutoramentos.

Concluindo os governos têm vindo a desvalorizar economicamente a profissão docente, depois intensificaram o trabalho com a consideração como tempo não letivo de alguns apoios aos estudantes, tudo isto com um objetivo político de decapitar a capacidade reivindicativa e reflexiva, com a limitação de greves aos exames e às avaliações e agora temos a desvalorização técnico-científica, que permite à opinião pública pensar que ser professor pode ser qualquer um desde que faça umas horas de formação, como em alguns cursos existentes para desempregados.

A questão das aulas do século XX no século XXI.

vai-teaosprofessores, 15.01.20

Num artigo recente o Alexandre Henriques aborda este tema. Quero aqui dar testemunho do meu caso pessoal.

Antes da interrupção letiva mandei um email à direção da minha escola a solicitar uma sala de informática para os alunos poderem realizar um trabalho, que contaria para avaliação, durante duas semanas. É uma turma dos profissionais, para quem o Conselho Pedagógico aprovou que se deveria ter no mínimo 40% da avaliação modular no âmbito do saber fazer. Além disso, a prática de execução de trabalhos pelos alunos é essencial para prepararem a sua PAP (prova de aptidão profissional no 12º ano).

Quando, no segundo período, regressámos ao trabalho passei pela direção para saber como estava a marcação. Foi-me dito que estavam a estudar o assunto e que havia um dia em que havia dificuldades de marcação, pois havia 3 candidatos à única sala livre. Estamos perante recursos escassos que inibem as aulas tipo século XXI por falta de investimento do ministério da educação.

Na primeira semana de aulas tive de alterar a programação feita por não ter sala de informática. Para a segunda semana foi-me atribuída a sala, por terem considerado que a matéria a lecionar era a que mais exigia uma aula com computadores.

Relacionando com a descentralização em curso, como o meu concelho aderiu à descentralização em educação, acho que é à câmara municipal que caberá garantir o apetrechamento de condições tecnológicas do século XXI para as escolas daqui para a frente, nomeadamente o apetrechamento de mais salas de informática que permitam assegurar um ensino diferente. A propósito deste tema o JN tem uma notícia na página 8 do dia 14/1/2020, em que explicita que a descentralização na educação deu prejuízo de 48 milhões ao norte. No corpo da notícia é dito que «todos os municípios da região apresentam um total de despesa elegível…superior a 100% da atribuída pelo OGE 2018».

Concluindo, no meu local de trabalho há rateio de salas de informática para se assegurar um ensino do século XXI. Para o futuro a responsabilidade de resolver o problema caberá ao executivo municipal e não ao ministério da educação, que faz leis para alterar o ensino, mas não deu condições para serem executadas e agora «passa culpas» para os municípios. Veremos se esta proximidade resolve o nosso atraso tecnológico, mas para já os municípios estão a financiar a educação acima do envelope financeiro cedido pelo governo que acompanha a descentralização.

Comparação entre professores e médicos na atitude do governo

vai-teaosprofessores, 09.01.20

Começo por desejar Bom Ano a todos os leitores.

O meu tema de hoje é fazer um cotejo entre o tratamento das agressões a professores e das agressões aos médicos.

No que se refere às agressões a professores a opinião pública e a imprensa já começa a apropriar-se deste fenómeno. Contudo, continua a faltar os poderes políticos intervirem. Houve uma intervenção do ministro que prometeu falar com a justiça para analisar o problema do ponto de vista de ser considerado crime público.

No caso dos médicos houve logo reação da ministra da saúde, que reuniu com a ministra da justiça e com o ministro da administração interna para abordar a situação. Não sei se na prática haverá mais do que estas reuniões, tanto mais que a medida de criar um gabinete de segurança, foi considerada pelos médicos e enfermeiros uma medida paliativa, mas pelo menos houve uma mensagem de preocupação do governo com os médicos. No caso dos professores ficou-se por uma promessa de analisar o assunto sem consequências ou reunião.

Esta diferença reflete o quê? Diferença de peso dos ministros, o facto de a saúde ser prioritária para este novo governo? Não sei responder e escolher uma hipótese, mas já nos habituámos (os professores) a ser insignificantes para o atual ministro, que nem soube aproveitar as reuniões das suas colegas da justiça e da saúde para se colar ao processo. Mais uma vez desperdiçou uma oportunidade de defender os professores.

Também podemos analisar as causas das agressões. Se descontarmos os comportamentos agressivos patológicos, na saúde as agressões são também um grito de desespero pelas horas de espera nas urgências ou da dificuldade em se ter consulta a tempo e horas. Talvez descarregando a frustração pela ineficiência dos serviços em quem dá a cara. Portanto, há aqui uma revolta contra as opções das escolhas governativas.

Já na educação o que está em causa é a super proteção dada aos filhos, a par de uma desvalorização social da classe docente, resultante de uma política deliberada e de uma educação facilitista, sem pôr recursos na resolução das dificuldades. O caso do anúncio de novos 2000 professores que na maioria vieram substituir colegas é paradigmática de uma demagogia por parte do poder político no setor da educação, que não quer resolver problemas mas varre-los para baixo do tapete por via administrativa.

Concluindo, na comparação entre o tratamento das agressões a professores e a médicos, ressalta que mais uma vez o ministro não está ao lado dos professores. Quanto às causas, se na saúde a falta de investimento afeta todos, na educação estamos perante uma opção política que retira estatuto aos professores pela via monetária – o caso do tempo de serviço por contar - e pela via educativa, tornando-os em executores (não seres pensantes) de uma política que desvaloriza o professor e o conhecimento, na medida em que procura soluções administrativas e não encara os problemas de frente disponibilizando mais recursos para se alcançar o conhecimento, embora procure passar essa mensagem com recurso à demagogia.