Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

CONTRAOFACILITISMO

Blog para debater ideias que recusem o facilitismo em educação.

CONTRAOFACILITISMO

Blog para debater ideias que recusem o facilitismo em educação.

O ministro da educação não é Marega.

vai-teaosprofessores, 19.02.20

O acontecimento que o jogador do FCP, Marega, protagonizou ao abandonar o jogo após ser vítima de cânticos racistas veio mostrar que a nossa sociedade pratica bullying e esta prática tem sido considerada normal. Aqui o bullying surgiu numa das suas formas mais violentas, o racismo, considerado pela nossa sociedade crime de ódio.

Eu vou pelo conceito de bullying na minha análise ao caso Marega porque essa é a palavra usada em contexto educativo para designar atitudes de coação física e psicológica: Bullying (inglês) é o uso de força física, ameaça ou coerção para abusar, intimidar ou dominar agressivamente outras pessoas de forma frequente e habitual (wikipédia). O pretexto para se praticar o bullying é a diferença, de cor de pele, de massa corporal, de caraterísticas físicas, como imperfeições, de pensamento, etc.

Nós, os professores, em contexto escolar, combatemos este fenómeno e fiquei espantado, por o ministro da educação ainda não se ter pronunciado sobre o assunto. Continua mudo até hoje. Devia ter falado, porque tutela o desporto, onde se tem refugiado como contraponto ao seu desaparecimento na área da educação, como no caso das agressões aos professores e funcionários. Mas, como ministro da educação deveria ser assertivo com que o que se passou na sociedade, com o caso referido, isto é, deveria, aproveitando o debate em curso, para que se reforçasse o combate ao bullying em meio escolar como prevenção de situações futuras. Esta exigência seria tanto maior quanto sabemos que os discentes têm ídolos nas atividades desportivas. Mas não, está ausente, não temos ministro da educação atento aos problemas sociais com incidência educativa.

Devo dizer que me afastei do futebol, desde que ir ao futebol passou a significar ter de assistir a cenas de violência, tanto mais que levava a minhas filhas comigo, ainda em Coimbra nos anos oitenta. Presentemente vivo perto de Guimarães e já equacionei ir assistir a jogos de futebol no estádio do Guimarães, mas a coerção dos vimaranenses em relação às claques de outros clubes ou mesmo a um simples assistente ao jogo, como seria o meu caso, que não participa nas suas «causas», aconselhado por quem já viveu situações dessas, fez-me desistir. Ou seja o futebol está a afastar as pessoas de bem que somente valorizam o espetáculo sem clubite. Ainda recentemente num jantar de amigos, quando disse que a clubite vimaranense era agressiva, houve quem se tivesse zangado comigo.

O futebol tem estado a normalizar a violência física e verbal, o que torna mais difícil combater o bullying nas escolas, uma vez que os jovens tendem a internalizar comportamentos agressivos e de coerção praticados no futebol.

Esta inoperância das estruturas para com a violência do futebol fez crescer a intolerância e a xenofobia – veja-se como o deputado do Chega usou o futebol como trampolim através de discursos fomentadores da intolerância. Temos então fenómenos como Alcochete, a morte de um adepto do SCP e o racismo no futebol e coube ao Marega dizer basta.

Concluindo, se o problema existe na sociedade e com a dimensão que este fim de semana ficou mais patente, também está nas escolas e torna-se difícil combater o fenómeno em meio escolar quando é pouco combatido na sociedade. As últimas condenações que houve foram em 2008 e somente 13. Interdição de estádios muito poucas. Logo a sociedade tem sido branda e isto tem de mudar. Um ministro atento deveria ter aparecido a dizer que a instituição escola fará o seu papel com tolerância zero ao racismo e ao bullying de uma forma geral, mas infelizmente ficou-se pelo silêncio, à espera de passar pelos pingos da chuva.

A aplicação das medidas universais nos cursos profissionais e suas limitações.

vai-teaosprofessores, 12.02.20

As medidas universais são para alunos que mostram dificuldades de aprendizagem e nos cursos profissionais é normal o professor fazer uma adaptação às caraterísticas dos alunos. Uma dessas adaptações é valorizar a componente do saber fazer com uma percentagem de pelo menos metade da parte cognitiva. Na parte cognitiva, sobre o saber, procuro restringir a matéria avaliada a perguntas previamente dadas, portanto orientando o estudo do aluno. Outra estratégia é reduzir a avaliação do saber a partes do lecionado através das questões de aula. Explicando melhor em vez de um teste sobre todo o módulo, entre 20 a 30 páginas, divido-o em questões de aula para reduzir a matéria que têm de estudar. Com estas medidas diminuíram o número de alunos que fazem recuperação.

Depois disto tudo ainda persistem alunos com resultados insuficientes para conseguirem aproveitamento. São os alunos completamente desmotivados, que ou faltam às aulas, ou estão de corpo presente, mas com o espírito ausente e que não fazem qualquer esforço para terem aprendizagens. Para estes as medidas universais não resultam porque mesmo nas medidas universais há e deve haver esforço (sem cair no facilitismo) e estes alunos nada querem fazer. São alunos desmotivados que são encaminhados para os serviços de psicologia ou para tutorias, os apoios não resultam. São situações em que os problemas familiares e sociais se sobrepõem às aprendizagens e só uma intervenção mais especializada permite inverter a situação.

A média na minha escola de insucesso no final dos 3 anos dos cursos profissionais ronda os 20% e traduz estes problemas, que têm um primeiro indicador no absentismo que estes alunos tendem a demostrar. Nalguns casos este absentismo encontra travão no facto de exigirmos que as faltas injustificadas acima do limite previsto, os 10% das aulas, sejam cumpridas na biblioteca, ou seja, passa a haver um preço sombra para as faltas que os leva a cumprir, na medida em que não se livram de estar na escola igual período de tempo por cada falta que dão. Assim, alguns alunos passam a ir às aulas, mas alguns destes continuam somente com o corpo presente. O facto de estarem na aula já significa algum sucesso social, pois não estão a passar o tempo de forma ociosa, correndo riscos de serem desencaminhados nos cafés integrados em grupos com comportamentos desviantes. Sabemos como o comportamento na adolescência é influenciado pelos grupos de pertença. Mas o sucesso académico continua inexistente.

Conclusão na medida em que a escola reflete os problemas da sociedade, não tem na sua (pouca) autonomia soluções para todos os problemas. As medidas universais são aplicáveis a quem tem um mínimo de empenho e de querer na aprendizagem. Os «forçados» a estar na escola e os desmotivados pela sua experiência social e familiar têm de ter outros mecanismos de intervenção que ultrapassam o professor.

O ministro continua ausente, talvez deslumbrado na área do desporto...

vai-teaosprofessores, 05.02.20

O ministério continua a não defender os professores em prol do interesse nacional. Hoje hesitei sobre o que escrever, mas mesmo sendo repetitivo decidi voltar ao tema das agressões em meio escolar e à falta de professores e ao desprezo do ministro por quem tutela porque esta postura tem de ser denunciada.

O Ministério da saúde conseguiu que as agressões aos profissionais de saúde fossem consideradas prioritárias na investigação criminal. Do meu ponto de vista será pouco porque deveria ser crime público, mas já é alguma coisa. O ministério da educação contínua quieto e caladinho, sem defender os seus profissionais: parece que a política é fingir-se de morto. Tudo isto em contraponto a uma sondagem aos portugueses que acham que os médicos e professores deviam ganhar mais do que os políticos e magistrados, isto é, há um reconhecimento pelos portugueses por estas profissões, que consideram socialmente úteis, a que se contrapõe a degradação social contínua dos professores pelo(s) governo(s), quer em termos financeiros quer em termos sociais.

Quanto à falta de professores é lamentável que esta classe valorizada pelos portugueses e desprezada por governos, não tenham incentivos para ir para zonas carenciadas, como acontece com os médicos (no dia 4/2/2020 o JN refere que foram gastos 4,5 milhões de euros com incentivos a médicos). Mais uma vez no cotejo com o Ministério da Saúde o ministério de educação fica a perder na defesa dos seus profissionais. São todos funcionários públicos, mas uns mais do que outros.

Concluindo, existe um ministro ausente na educação em relação às preocupações da classe docente, quer no que se refere às agressões a professores e funcionários, quer na sua inação sobre o incentivo a professores em zonas carenciadas, o que não acontece com o Ministério da Saúde.