O ministro da educação não é Marega.
O acontecimento que o jogador do FCP, Marega, protagonizou ao abandonar o jogo após ser vítima de cânticos racistas veio mostrar que a nossa sociedade pratica bullying e esta prática tem sido considerada normal. Aqui o bullying surgiu numa das suas formas mais violentas, o racismo, considerado pela nossa sociedade crime de ódio.
Eu vou pelo conceito de bullying na minha análise ao caso Marega porque essa é a palavra usada em contexto educativo para designar atitudes de coação física e psicológica: Bullying (inglês) é o uso de força física, ameaça ou coerção para abusar, intimidar ou dominar agressivamente outras pessoas de forma frequente e habitual (wikipédia). O pretexto para se praticar o bullying é a diferença, de cor de pele, de massa corporal, de caraterísticas físicas, como imperfeições, de pensamento, etc.
Nós, os professores, em contexto escolar, combatemos este fenómeno e fiquei espantado, por o ministro da educação ainda não se ter pronunciado sobre o assunto. Continua mudo até hoje. Devia ter falado, porque tutela o desporto, onde se tem refugiado como contraponto ao seu desaparecimento na área da educação, como no caso das agressões aos professores e funcionários. Mas, como ministro da educação deveria ser assertivo com que o que se passou na sociedade, com o caso referido, isto é, deveria, aproveitando o debate em curso, para que se reforçasse o combate ao bullying em meio escolar como prevenção de situações futuras. Esta exigência seria tanto maior quanto sabemos que os discentes têm ídolos nas atividades desportivas. Mas não, está ausente, não temos ministro da educação atento aos problemas sociais com incidência educativa.
Devo dizer que me afastei do futebol, desde que ir ao futebol passou a significar ter de assistir a cenas de violência, tanto mais que levava a minhas filhas comigo, ainda em Coimbra nos anos oitenta. Presentemente vivo perto de Guimarães e já equacionei ir assistir a jogos de futebol no estádio do Guimarães, mas a coerção dos vimaranenses em relação às claques de outros clubes ou mesmo a um simples assistente ao jogo, como seria o meu caso, que não participa nas suas «causas», aconselhado por quem já viveu situações dessas, fez-me desistir. Ou seja o futebol está a afastar as pessoas de bem que somente valorizam o espetáculo sem clubite. Ainda recentemente num jantar de amigos, quando disse que a clubite vimaranense era agressiva, houve quem se tivesse zangado comigo.
O futebol tem estado a normalizar a violência física e verbal, o que torna mais difícil combater o bullying nas escolas, uma vez que os jovens tendem a internalizar comportamentos agressivos e de coerção praticados no futebol.
Esta inoperância das estruturas para com a violência do futebol fez crescer a intolerância e a xenofobia – veja-se como o deputado do Chega usou o futebol como trampolim através de discursos fomentadores da intolerância. Temos então fenómenos como Alcochete, a morte de um adepto do SCP e o racismo no futebol e coube ao Marega dizer basta.
Concluindo, se o problema existe na sociedade e com a dimensão que este fim de semana ficou mais patente, também está nas escolas e torna-se difícil combater o fenómeno em meio escolar quando é pouco combatido na sociedade. As últimas condenações que houve foram em 2008 e somente 13. Interdição de estádios muito poucas. Logo a sociedade tem sido branda e isto tem de mudar. Um ministro atento deveria ter aparecido a dizer que a instituição escola fará o seu papel com tolerância zero ao racismo e ao bullying de uma forma geral, mas infelizmente ficou-se pelo silêncio, à espera de passar pelos pingos da chuva.