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CONTRAOFACILITISMO

Blog para debater ideias que recusem o facilitismo em educação.

CONTRAOFACILITISMO

Blog para debater ideias que recusem o facilitismo em educação.

Um cenário otimista para reorganizar o que resta do ano letivo.

vai-teaosprofessores, 25.03.20

Um cenário otimista para reorganizar o que resta do ano letivo

Entramos na 2ª semana de encerramento das escolas e as atividades com alunos são bastante mais reduzidas. Vejamos um caso de um aluno do 11º ano Ciências e Tecnologias, na primeira semana teve solicitação de atividades de 3 disciplinas, biologia, física e química e matemática, que lhe ocuparam cerca de uma hora diária. Na segunda semana teve solicitações de duas disciplinas, sendo que uma deles deu mesmo matéria, por videoconferência. Ou seja, as atividades através de videoconferência, em período de quarentena, foram bastante mais reduzidas, em média hora e meia diária, comparando com as 5 horas diárias, em média, com atividades letivas normais.

Portanto, mesmo com boa vontade dos professores houve bastante menos atividades diárias em relação ao dia passado na escola. Deu para mitigar a situação, mas não se pode comparar com a situação normal. Daí que se possa concluir que estar em casa e ter ensino à distância não permitiu acompanhar o ritmo natural de aulas em ambiente escolar, mesmo para os alunos sem problemas de acesso às tecnologias.

Isto é importante porque para os anos com exame é preciso acautelar um funcionamento regular da escola antes de se pensar em fazer exames.

Por outro lado, o pico da pandemia é esperado para finais de abril, pelo que é prováveis as escolas manterem-se fechadas até meados de maio, o que deverá dar, pelo menos, cerca de 6 semanas letivas, que precisam de ser recuperadas. Assim, teremos de ter alteração do calendário escolar de cerca de 6 semanas, o que seria possível com a primeira época dos exames em julho e a segunda época em setembro, como já em tempos se passava. Este será um senário otimista em relação à pandemia, que pode ou não verificar-se.

Subjacente está a questão da necessidade de haver exames, ora já defendi que com perfil do aluno o corolário lógico seria passar para o superior a escolha dos seus alunos e que faltou coragem à equipa da educação dar este passo. Teriam aqui uma oportunidade de ensaiar um novo processo de acesso, mas não acredito que entretanto a coragem tenha chegado.

Sendo cedo para se prever o que se vai passar não deixa de ser confrangedor estar a assistir ao completo apagamento da equipa da educação, durante esta crise. Ontem o Paulo Portas abordou o assunto na TVI e claro defendeu a manutenção dos exames, talvez agora venham à liça.

Os professores e o futuro dos seus alunos.

vai-teaosprofessores, 11.03.20

O tema da semana é o covid-19, mas não escreverei sobre o tema, porque não o domino. O tema que irei desenvolver será o do professor como «canivete suíço» na visão do Guinote, ou o subjacente na carta dirigida por uma professora aos encarregados de educação, publicada no Comregras a 8/3, onde se escreve: «para o futuro de cada uma das crianças e de cada um dos jovens com quem hoje partilho os meus dias, só posso desejar o melhor: que sejam responsáveis, curiosos, amantes do saber, sensíveis, briosos, dedicados, capazes de abdicar de alguns prazeres para lutarem pelas suas convicções, participantes ativos e esclarecidos na sociedade e felizes, muito felizes».

Ou seja, o papel de professor extravasa o nível científico e pedagógico, entrando por zonas da psicologia e da sociologia e acima de tudo abraçando o humanismo, de querer ver cada aluno como um vencedor na vida, tal como desejamos para os nossos filhos.

É neste contexto que quero trazer hoje um caso concreto de um aluno que demonstrava absentismo, estava sempre a arranjar maneira de sair da escola, quando ia às aulas não estava atento e consequentemente tinha insucesso escolar. Este comportamento ainda se manteve até ao final do primeiro período, mas, depois muda, tornando-se um aluno cumpridor e que se esforça para obter resultados. O que esteve na alteração de comportamento: o esforço dos professores que nunca desistiram dele e o elogiaram, quando mudou de atitude; a atual namorada que o incentivou a mudar para construírem um projeto de vida; ou, a mãe, para quem o filho só lhe dizia a verdade, confrontada com assinaturas falsificadas, começou a acreditar na informação veiculada pela escola e agiu.

Qual foi o mais importante, a namorada que o afastou das anteriores amizades e do seu grupo de pertença, a mãe que caiu na realidade e reagiu positivamente às informações recebidas da escola, após um período de negação, ou dos professores, que nunca se desinteressaram, obrigando-o a cumprir as faltas injustificadas na biblioteca, que ameaçaram comunicar à CPCJ, o seu absentismo, lembrando que depois ele e a mãe teriam de ir a reuniões justificar o seu comportamento, além de tentarem compreender o que estava na base do seu comportamento? Acho que foram os contributos destes 3 fatores que provocaram a mudança. Ou seja, quando a escola, a família e namorada se unem o sucesso é possível. Houve aqui um misto de sanções, com reforços positivos e acima de tudo muito diálogo com o aluno e mãe.

Concluindo, são estes casos que dão a satisfação de dever cumprido e energia aos professores, permitindo-lhes enfrentar o lado negativo desta profissão, como a perda de prestígio social e a desvalorização da profissão pelos últimos governos.

Ainda a propósito da escola ser democrática: uma resposta aos que defendem o atual modelo.

vai-teaosprofessores, 04.03.20

No blog do ComRegras tem havido um debate sobre a gestão democrática nas escolas, a propósito de uma petição que voltou a colocar o tema na atualidade. Veja-se o artigo «ímpares entre pares? A grande falácia» publicado a 3/3.

Em primeiro lugar quero distinguir a gestão democrática da escola democrática. A distinção é que se debatermos somente a gestão até podemos aceitar a existência de democracia nas escolas portuguesas, uma democracia limitada e indireta, porque os professores, alunos e funcionários elegem representantes no conselho geral, mas depois há os membros representantes da autarquia e forças socio/económicas. Há democracia limitada porque a eleição do diretor é indireta e há membros por inerência e cooptados.

Mas uma escola pode viver um clima de coação, por parte de um diretor, sobre todas as ideias que não se compaginam com a visão de escola do diretor. Portanto a escola pode não ser democrática ao não aceitar a diferença de opinião. Para isso o diretor tem vários mecanismos à sua disposição, a atribuição de horários e níveis, fazendo o assédio moral, o uso dos processos disciplinares (parece-me relevante o caso da professora agredida e alvo de um processo disciplinar para desistir da queixa feita nos órgãos policiais – veja-se o post «professora agredida leva processo disciplinar e agressora é condenada em tribunal» de 2/3). Eu próprio já escrevi uma carta aberta à comunidade educativa e tive um processo disciplinar que me valeu uma multa. O diretor escolhe o instrutor do processo, que no meu caso até me acusou de factos falsos de que tinha conhecimento pessoal de que o eram e tive de o chamar a depor para rebater algumas acusações. Como alguém escreveu num comentário ao post referido «a “matilha” juntou-se para isolar, humilhar e abater o alvo». Lembro que os processos disciplinares deixaram de ser da responsabilidade da inspeção e passaram a depender de um instrutor nomeado pelo diretor, ou seja, a justiça disciplinar não segue as mesmas normas da justiça normal, nomeadamente o princípio do juiz/instrutor independente e natural, antes pelo contrário aqui escolhe a seu belo prazer o instrutor.

Por último uma escola democrática deve estimular o pensamento crítico sobre todos os assuntos, quer entre professores, quer para alunos. Já há dificuldades em estimular o pensamento crítico no âmbito das matérias lecionadas devido à rigidez dos programas a lecionar, mas a liberdade de expressão dos próprios alunos aparece limitada aos temas selecionados nas publicações escolares. Conheço casos de artigos mandados para as publicações escolares que foram censurados ou não publicados, porque o tema era incómodo para o diretor.

Concluindo, restringir a escola democrática a saber se há um laivo de democracia na eleição do diretor é redutor. A escola democrática implica mecanismos de equilíbrio de poderes e uma justiça disciplinar que não esteja inclinada para o lado do diretor. Acima de tudo implica aceitar o debate de ideias e não restringi-lo como certos diretores fazem. A arquitetura da instituição escola democrática exige eleições diretas, órgãos colegais, uma justiça disciplinar mais equilibrada com as mesmas regras da outra justiça e que exclua liminarmente o delito de opinião.