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CONTRAOFACILITISMO

Blog para debater ideias que recusem o facilitismo em educação.

CONTRAOFACILITISMO

Blog para debater ideias que recusem o facilitismo em educação.

Assim vai a educação

vai-teaosprofessores, 27.05.14

Aproxima-se o final do ano letivo e aparecem peças legislativas como o concurso para os quadros, a organização do próximo ano letivo, a discussão do calendário escolar, para só referir as mais importantes.

Começando com a última, concordo com a denúncia da subordinação do calendário escolar ao organismo que superintende nos exames, que veio criar perturbações no final do ano letivo, com um 3º período bastante curto, porque condicionado ao calendário religioso, e com bastantes quebras para exames e para corrigir exames. Para o ano algumas destas perturbações podem ser corrigidas, mas não acredito que se ignore o calendário religioso.

Sobre o concurso parece-me muito limitado nas vagas, podia-se ter ido mais longe, mas sabemos que a educação vai continuar a sofrer cortes e portanto para a lógica deste governo, devem só ter aberto vagas que fazem mesmo falta ao sistema numa perspetiva muito conservadora.

Quanto à autonomia, o atual modelo de gestão afasta os professores diretamente da escolha da gestão, pelo que esta é uma autonomia da gestão (da liderança) - para esta visão da autonomia só a liderança importa conjugada com um corpo docente domesticado - e não da escola e dos seus principais atores os professores, com a consequente quebra de motivação, que o recente estudo da UM, vem demonstrar.

Lembro aqui que está para sair legislação que proibe os funcionários públicos de falar sobre assuntos relativos ao seu local de trabalho, pelo que estarão em causa os blogs sobre educação, incluindo este, pois muitas das vezes escrevo sobre assuntos da escola e da educação.

Um caso pessoal - menor qualidade do ensino imposta pelo MEC

vai-teaosprofessores, 25.10.12

No presente ano letivo consta do meu horário duas horas para PAP no curso de Energias Renováveis. Os alunos começam a defenir os seus projetos de monografia/trabalho prático de final de curso a defender em julho. A grande maioria vai optar por fazer uma PAP prática, o que me parece correto.

Mas é aqui que surge o busílis da questão, não tenho formação científica para orientar uma PAP prática na área das energias renováveis, por ser economista. A outra colega que orienta as PAP é de Físico-Quimica e está nas mesmas condições. Então, porque estou(mos) a orientar PAP, que é uma irracionalidade?

Porque o MEC decidiu que os professores com redução de horário ao abrigo do artigo 79, teriam prioridade no preenchimento das horas de PAP e NAFT, entre outras, logo calhou-me duas horas de PAP. Com isto reduziu-se custos à custa de uma menor qualidade do acompanhamento das PAP, com preenchimento de horários, em tempos não letivos, com horas que deviam ser letivas e nas pessoas não certificadas cientificamente para o efeito.

Senhor ministro aqui não havia gorduras do Estado...

A educação aparece como alvo de mais cortes

vai-teaosprofessores, 18.10.12

Sobre a educação as notícias não são boas, esta área aparece como passível de mais cortes na reformulação das funções do Estado. Ora, para (2012/)2013 haverá na educação um corte de professores contratados significativo, que aliás se vai traduzir numa redução da despesa em dois dígitos (cerca de 11%). A única boa notícia é a vinculação de alguns contratados com bastantes anos de serviço, com base, consta-se, no conceito de quadros de zona pedagógica, para que este concurso não colida com o concurso quadrienal de colocação de professores, onde os colocados nestes quadros teriam de se candidatar também para obterem a escola onde exercer. Os encargos com salários neste ministério já foi reduzido  em cerca 20%, descendo dos 80% para os 60%, com base na redução de pessoal e com base na manutenção do salário nominal (congelamento), o que se traduz na redução dos salários reais pelo valor da inflação verificada em cada ano (é o chamado imposto inflacionário).

Mas tudo isto numa altura em que aumenta a escolaridade obrigatória, o que devia levar a um aumento dos gastos, pois mais alunos permanecem no sistema, nomeadamente os das famílias carenciadas. Mas escolaridade obrigatória parece que não significa sensiblidade social, com a recusa de almoço (não de alimentação, leia-se lanche reforçado) a quem tem dificuldades. Ou seja, por um lado, o Estado impõe a permanência dos alunos no sistema até ao 12º ano, mas por outro lado, não ajuda as famílias a assegurar este desiderato, pois só lhe interessa a redução da despesa pública...

Por fim uma palavra sobre os rankings, estes passam a fazer algum sentido quando ponderados pelo ambiente sócio-económico de cada escola. Por outro lado, a comparação entre público e privado subsidiado pelo Estado, isto é privado que não pode fazer a seleção de alunos, mostra que não há grandes diferenças de resultados, aliás acontecendo mesmo que aparecem escolas públicas melhor que as privadas em alguns concelhos, por exemplo em Barcelos o colégio La Salle aparece depois de duas escolas públicas. A diferença entre escolas públicas e privadas reside pois no estrato social mais homogénio e elevado destas últimas e na seleção de alunos, que algumas públicas também tentam fazer...Por outro lado não faz sentido identificar as escolas com piores resultados e isto não se traduzir em meios para se ir solucionanado o problema, antes pelo contrário dá-se mais crédito de horas às escolas melhor avaliadas.

 

Crónica de uma acção de formação: correcção de exames nacionais.

vai-teaosprofessores, 20.06.11

1. O objectivo desta formação foi formatar os professores, à boa maneira tayloriana, com vista a seguirem as instruções do Gave.

2. O modelo de prova não se discutiu, mas é aí que está o problema principal, quando as perguntas já contêm as respostas. Não faço perguntas deste tipo nos meus testes. Já agora não existem nos exames desta minha disciplina uma pergunta de desenvolvimento de grau de dificuldade elevado e devia haver, para que o exame distinguisse correctamente os alunos de elevadas notas. Com este tipo de exame um aluno médio pode tirar uma boa nota.

3. Verificaram-se discrepâncias entre os professores presentes entre 14 e 18, ou seja, o aluno pode ver a sua nota variar em 4 valores conforme o corrector que lhe calhe (dados para a formação em que estive presente e para correcções de perguntas da parte sem escolha múltipla).

4. As discrepâncias maiores têm a ver em como classifica a resposta de um aluno que copie o texto, em que os professores dos centros urbanos não deram cotação e os da periferia deram o máximo. Este foi o grande debate, de facto está nos critérios gerais que o aluno deve «produzir» um texto, mas tem sido prática aceitar as cópias integrais. Estou de acordo que o aluno deve produzir um texto próprio com introdução, desenvolvimento e conclusões, mas tenho consciência que esta exigência favorece os alunos com capital cultural acumulado no seio da família. Por outro lado, penso que só com exigência a escola serve de instrumento de ascensão social.

5. Outra discrepância detectada tem a ver como os diferentes classificadores avaliam os erros, havendo quem os valorize e desconte e quem não os valorize e nada desconte. O Gave pretende que os erros sejam desvalorizados quando o aluno respondeu certo à questão, mesmo que se contradiga a seguir. Não concordo, os erros são para descontar porque mostram que o aluno por exemplo aplica uma fórmula, mas a seguir não consegue comentar o resultado, mesmo que este comentário / interpretação não seja pedido.

6. O Gave foi muito «eduquês» no ponto 5 e o contrário no ponto 4. Esta contradição será fruto da viragem que se adivinhava com o fim do consolado facilitista (MLR e Sócrates) na educação?

7. A acção foi útil pela discussão que promoveu entre pares e é essa que retenho, ao mesmo tempo que relativizo as intrusões do Gave.

8. Já agora como se escolheram os monitores desta formação (?), o meu era muito pouco experiente e daí talvez ser mais fácil a sua formatação e ter a certeza de que vai replicar sem questionar as instruções. Estamos a desvalorizar a  experiência com este tipo de monitores. Os monitores têm de ser respeitados pela sua formação académica adequada ou pela sua experiência, senão cheira a favores pessoais...

 

A derrota de Sócrates espero que seja o princípio do fim do facilitismo.

vai-teaosprofessores, 06.06.11

A derrota de Sócrates julgo ser uma derrota do facilitismo, pois Sócrates era pelo seu percurso educativo e pelas políticas aplicadas viradas para resultados estatísticos, um símbolo do facilitismo.

O seu exemplo mostrava que se podia fazer disciplinas por fax e ao fim de semana. Um pouco como o que se passa nas Novas Oportunidades, que sendo uma ideia interessante, é aplicada de forma facilitista, com trabalhos feitos sabe-se lá por quem.

A preocupação das políticas educativas eram viradas para as melhorias estatísticas e não para mudanças estruturais, ainda que a escola a tempo inteiro seja uma boa ideia, mas só gastando recursos como o fez no básico se conseguiu concretizá-la efectivamente. Nos outros níveis de ensino procurou concretizá-la sem gastar recursos e não há resultados, além de maior sobrecarga dos professores. Na parte final do seu governo recuou acabando com algumas disciplinas que só têm lógica na escola como ocupação formativa dos tempos livres, isto é, não são muito importantes para o conhecimento, mas teriam lugar para manter os alunos ocupados de maneira não muito exigente e para ajudar os alunos com dificuldades: estudo acompanhado, área de projecto, etc.

Os professores foram diabolizados e nada se faz de melhor sem eles, cometendo aqui um erro estratégico.

A actual avaliação de professores continua a ser burocrática e para inglês ver: basta preparar bem duas aulas e já está, podendo o resto continuar na mesma. Alguns avaliadores não são exemplo para ninguém, aumentando a conflitualidade dentro do corpo docente.

A reforma do parque escolar é bem vinda mas desarticulada da política educativa, pois ao mesmo tempo que se aumenta a capacidade de algumas escolas secundárias, deixa-se algumas escolas com 3º ciclo passar a ter secundário. A contradição está que se era para ser assim as escolas remodeladas poderiam ser mais pequenas (tenho em mente o que se passa no Conselho de Felgueiras, em que se aumenta a capacidade da secundária, ao mesmo tempo que 2 escolas de 3º ciclo passam a ter secundário). Pessoalmente a maior crítica a fazer às novas escolas contruídas é ter-se perdido a oportunidade de redimencionar o tamanho das escolas e reduzi-las para escolas com menos de 1000 alunos, como acontece na Filândia. Na educação «small is beautiful».

Espero que se comece a desmanteler daqui para a frente a filosofia facilitista, mas não tenho ilusões de que se o símbolo desta caiu, ainda falta combater as mentalidades que a ela aderiram e aqui há um longo caminho a percorre, justificando-se a continuação deste blog, na denúncia das mentalidades facilitistas que vão continuar por inércia ou mesmo convição.

 

A manipulação das Novas Oportunidades

vai-teaosprofessores, 30.05.11

Outro dia estive à conversa com um colega professor das Novas Oportunidades, que me disse que a certificação por experiência de vida é excepcional e que só foi aplicada, a quem o merecia. Ora, contrapuz-lhe que já me vieram pedir para elaborar relatórios temáticos (que recusei e só aceitei corrigi-los e quem me pediu nada mais disse), o que prova que não há controlo sobre o que é apresentado, o que ele reconheceu, mas insistiu em que há casos que se justifica o reconhecimento da carreira profisional. Assim, o modelo é adequado a certas pessoas, mas é aplicado sem controlo sobre as prestações dos alunos, o que abre a porta ao facilitismo.

Por outro lado vi na televisão uma aluna que estava desiludida por ninguém reconhecer a formação que estava a fazer e que em termos de mercado de trabalho nada vale. É esta a questão, a sociedade não reconhece na prática o esforço feito, admitindo que houve efectivamente esforço. Este não reconhecimento é sociológico e independente da certificação que é dada pelo governo.

A discussão sobre Novas Oportunidades é bem vinda.

vai-teaosprofessores, 18.05.11

Na campanha política surgiu o tema das Novas Oportunidades, pela mão do PSD. Dou inteira razão a este debate porque os relatos que me chegam são de total facilitismo. Não sei se estes casos são gerenalizados ou pontuais, mas a serem verdade algo está muito mal neste programa. Assim, sem tabus impõe-se investigar e fazer uma avaliação do que está a ser feito. Se for uma certificação facilitadora estamos a enganar os alunos, que não vão ver reconhecida a certificação na prática e estiveram a ser usados para melhorar as estatísticas.

O absentismo dos alunos é premiado

vai-teaosprofessores, 04.05.11

Continua-se a facilitar a vida aos alunos que não cumprem. Um aluno teve de fazer dois planos de recuperação de faltas, um fez e outro não. Mas mesmo assim vai poder ir a uma visita de estudo à Alemanhã. Não cumprir acordos, assinados pelo aluno e o encarregado de educação continua a compensar.

O facilitismo do Sousa Tavares

vai-teaosprofessores, 21.03.11

Na última edição do Expresso o comentador Sousa Tavares voltou a opinar com base em dados incorrectos, os professores não recebem 25€ por cada prova corrigida, mas 5€. Os professores não corrigem os exames dos alunos da sua escola e os exames são anónimos. Um comentador tem de ter a humildade de não opinar sobre o que não sabe e sendo tão bem pagos até deviam ter uma equipa que lhes fornecesse dados correctos. O que aconteceu com o Sousa Tavares foi facilitismo. Espero que a direcção do jornal corrija os factos e que multe este comentador por desprestigiar o jornal...

A navegação à vista também é uma forma de facilitismo

vai-teaosprofessores, 16.03.11

 O período de governação de Isabel Alçada padece dos males deste governo, governa à vista ao sabor da conjuntura, sem qualquer estratégia educativa o que é também uma forma de facilitismo. Assina um acordo com os professores e logo a seguir deixa cair algumas clausulas, nomeadamente o concurso e o congelamento da carreira, promete uma reforma curricular e aplica outra com base em efeitos orçamentais, como a redução da área de projecto, do estudo acompanhado e redução dos professores de ETV. O que esta senhora pensa para a educação não se sabe ou tem metido na gaveta, está lá pelo poder e prestígio de ser ministra não por uma visão do que deve ser a educação e isto também é facilitismo.

Quanto aos professores estão acomodados e a promessa de formas de lutas radicais, como greve aos exames e às avaliações, sem uma grande mobilização é um erro profundo de estratégia sindical. O que vale é que vamos para eleições e tudo isto ficará em «banho maria».